Cobertura dos protestos é tema de painel do 8º Congresso

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Foto de protestante ao lado de ônibus em São PauloDurante a cobertura das manifestações em São Paulo em junho deste ano, um robô sobrevoando as massas chamou a atenção de todos. O drone, ou veículo aéreo não tripulado, é conhecido pelo uso militar e fez parte de uma série de novidades jornalísticas que surgiram durante o trabalho e a corrida intensos para retratar o que estava se passando nas ruas Brasil afora.

A ideia de usar o robô foi de João Wainer, diretor do TV Folha, que estará presente no 8º Congresso da Abraji em outubro para falar sobre a cobertura das manifestações em diversas capitais do país. Junto com ele, estarão na mesa Bruno Torturra, da Mídia Ninja, e Bruno Paes Manso, do Estadão. Os três participaram ativamente da cobertura dos protestos em São Paulo desde o início até os momentos de maior tensão.

Wainer conta que a opção por usar o drone era algo que já estudava há algum tempo e o momento possivelmente histórico que o país vivia foi uma oportunidade de explorar uma nova visão. “O helicóptero é muito alto e usa câmera com super zoom, gerando um ângulo mais de cima para baixo. Com o drone você chega em espaços que o helicóptero não pode chegar. É um meio termo entre os dois e isso que é o bacana: você poder olhar de um ponto de vista que é novo”.

A situação extrema até então incomum impressionou os profissionais. Wainer diz que ninguém na equipe estava preparado para lidar com algo daquela dimensão: “A maioria dos jornalistas dizem que foi a cobertura mais insana da carreira. Cada manifestação tinha um desfecho completamente diferente do outro”. De acordo com ele, o trabalho em conjunto foi fundamental: “acho que depois que a Giuliana [Vallone, repórter da Folha] levou um tiro de bala de borracha, a equipe aumentou mais ainda em empenho. Trazer a sensação do que estava acontecendo na rua foi mérito da equipe que se jogou na rua e correu riscos”.

O trabalho em equipe parece ter dado certo para os colegas de pauta, sobretudo da Mídia Ninja, pois permitiu que a transmissão em tempo real via redes sociais tivesse maior capilaridade, estando presente inclusive nas situações de maior risco. “A motivação que levou a gente à rua não foi o risco. Não gostamos de correr risco, mas a gente faz questão de servir de olho público para as questões consideradas mais sérias que estavam na rua, e muitas vezes a questão mais séria era na linha de tiro”, explica Bruno Torturra.

O reconhecimento pelo trabalho veio com o alto número de visualizações e compartilhamentos na rede e também com as críticas em relação à linguagem usada: ao vivo e sem edições. “Era um recurso que tínhamos em mãos. Transmitir ao vivo é um recurso tão legitimo quanto o gravado e editado. A própria TV faz isso. O valor desse tipo de transmissão é quase auto-evidente: você está mostrando o que está acontecendo em tempo real para que as pessoas consigam se informar também em tempo real”, explica Torturra. Ele ressalta: “isso não significa que a gente não valoriza a edição, pelo contrário. Estamos oferecendo um recurso, um tipo de jornalismo, que serve de matéria-prima para edições e para quem queira trabalhar o assunto e refletir sobre ele”.

A linguagem também foi uma ferramenta a favor de João Wainer. Assim como o uso de transmissões ao vivo sem qualquer edição foi uma aposta da Mídia Ninja, Wainer tem usado o formato de desde o início do TV Folha. De acordo com ele, o modelo diferente da televisão clássica permite trabalhar com trilha, fotografia e sugerir determinadas coisas sem ter que necessariamente falar. “Quando você tem o formato convencional, você chega para editar e não precisa nem pensar. Acho que o formato do telejornalismo já cansou um pouco. Ele é mais a embalagem na verdade. É como uma propaganda de margarina – sempre da mesma forma que não convence mais”, conta João.

Para o repórter d’O Estado de S. Paulo, Bruno Paes Manso, que também cobriu as passeatas em junho e julho deste ano, a cobertura em texto também precisa inovar. Ele lembra que o repórter de texto precisa trazer elementos que não podem ser transmitidos em imagens, como o contexto e outros aspectos importantes dos acontecimentos. “Quando eu comecei a ver o que estava acontecendo aqui em São Paulo [vandalismo e violência] e isso me chamou a atenção e comecei a abordar nas matérias como esta tática de enfrentamento policial e desobediência civil estava acontecendo”, conta Paes Manso.

Perceber estes detalhes sobre o que estava se passando nas ruas foi, em grande parte, resultado de um conhecimento prévio sobre os grupos políticos e coletivos que estavam convocando as manifestações. Paes Manso, que concluiu seu doutorado na Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da USP em 2012, conta que seu contato com pessoas ligadas ao Movimento Passe Livre e sobre a tática de rua Black Bloc foi fundamental no seu trabalho nas ruas. “O pessoal fala muito de ir para rua. Isso é legal, mas se você é um repórter de texto e a imagem para você não são tão importantes, o respaldo que você tem, o conhecimento para mostrar o processo e algumas coisas invisíveis que a câmera não mostra são essenciais”, explica.

Além de João Wainer, Bruno Torturra e Bruno Paes Manso, também estarão presentes no 8º Congresso o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, Caco Barcellos (TV Globo), José Hamilton Ribeiro, Eduardo Faustini (TV Globo), Clóvis Rossi (Folha de S.Paulo), Juan Arias (El País), Hannah Storm, do International News Safety Institute (INSI), Audálio Dantas (autor de “As Duas Guerras de Vlado Herzog”), Mário Magalhães (autor de “Marighella: o guerrilheiro que incendiou o mundo”), Roberto Cabrini (SBT), Miriam Leitão (O Globo), Rubens Valente (Folha de S.Paulo), Juca Kfouri (UOL/ESPN/Folha de S.Paulo), José Paulo Kupfer (O Estado de S.Paulo) e Eliane Brum.

O 8º Congresso será realizado pela Abraji de 12 a 15 de outubro no prédio da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) junto com outros dois grandes eventos internacionais de jornalismo: a 8ª Conferência Global de Jornalismo Investigativo, realizada pela Global Investigative Journalism Network (GIJN) e a 5ª Conferencia Latinoamericana de Periodismo de Investigación (COLPIN), do Instituto Prensa y Sociedad (IPYS). As inscrições podem ser feitas pelo site da Abraji com preço promocional até dia 9 de setembro. Associados da Abraji, estudantes ou profissionais, têm desconto. Veja os valores na tabela abaixo:

 

Preços promocionais

Até 9 de setembro, as inscrições para a Conferência Global de Jornalismo Investigativo estão com preços promocionais. Confira:

Profissional sócio: R$ 300
Estudante sócio: R$ 215
Profissional não-sócio: R$ 490
Estudante não-sócio: R$ 310

A partir de 10 de setembro:

Profissional sócio: R$ 350
Estudante sócio: R$ 250
Profissional não-sócio: R$ 550
Estudante não-sócio: R$ 350

 

Serviço:

Conferência Global de Jornalismo Investigativo
Quando: 12, 13, 14 e 15 de outubro de 2013
Onde: PUC-Rio – Gávea (r. Marquês de São Vicente, 225)
Inscrições on-line: http://bit.ly/187YPTk

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