“Todo papel tem um DNA que revela a impressora de origem”, alerta investigador particular

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“Qualquer papel impresso é marcado com uma estampa microscópica de pontos amarelos que são únicos para cada impressora ou copiadora. Isso permite rastrear a fonte daquele documento”, revelou o investigador particular Jim Mintz. Trata-se de um programa do Serviço Secreto americano, criado para impedir que as pessoas imprimam dinheiro. Segundo ele, um catálogo contendo essas informações é entregue para os órgãos responsáveis por investigar falsificação de dinheiro em cada país. “Se o jornalista conseguir documentos vazados, o melhor é fazer uma cópia e guardar o original. Assim, a marca no papel será o da copiadora, em vez da impressora da fonte original”, aconselha.

Mintz participou da mesa “How other investigators do it”, que tinha como objetivo mostrar o trabalho de investigação fora das redações, na segunda, 14 de outubro, terceiro dia da 8a Conferência Global de Jornalismo Investigativo. Ao seu lado estavam dois ex-jornalistas que coordenam equipes de investigação em ONGs: o alemão Manfred Refels (Greenpeace) e o britânico Patrick Alley (Global Witness).

Como trabalhar disfarçado foi um dos principais pontos abordados. Refels informou os dois critérios que o Greenpeace usa para adotar esse recurso. “Trabalhar disfarçado é eticamente justificável apenas quando o interesse público é evidente, e não para investigar ladrões menores. Além disso, só é usado em último caso. Você sempre deve tentar outras formas de conseguir a informação”, explicou.

“O jornalista deve escolher um papel que possa levá-lo às informações, que não seja ameaçador para o outro lado e que ainda possa oferecer algum benefício”, sugeriu o alemão. O Greenpeace usou esse recurso para investigar o desmanche de navios na Índia, Bangladesh e Paquistão, onde trabalhadores são expostos a substâncias tóxicas e não há regulação ambiental para a atividade. “O interesse deles era vender o metal e ganhar dinheiro. Poderíamos posar como compradores, mas teríamos que ficar falando sobre esse assunto, o que era muito difícil. Mesmo que você esteja mentindo, tente ficar o mais próximo possível da verdade, desempenhando um papel simples em que você se sinta confortável.”

“Decidimos ser turistas alemães membros da Associação de Amantes de Navios”, contou Refels, gerando surpresa e risos na plateia. “Dissemos que nosso interesse era tirar fotos de navios alemães e que pagaríamos em dólares. Assim conseguimos fotografar as condições degradantes de trabalho.”

Já a Global Witness investigou um caso de corrupção no governo do estado de Sarwak, na Malásia. De acordo com Alley, só 5% da região mantém as florestas originais, enquanto exporta mais madeira do que a América Latina e a África juntas. “O controle das florestas pelo governador, que era extremamente rico e corrupto, levou a violações de direitos humanos e destruição ambiental”, denunciou Alley.

Alley acrescenta algumas dicas: “Você tem que ser como um produtor de cinema e tentar manter o controle da situação. O nosso infiltrado sempre fazia as reuniões no seu quarto de hotel, onde ele podia posicionar melhor a câmera”, conta. “E como fazer a pessoa sentar onde você quer? Ele simplesmente colocou suas roupas sujas em todos os outros lugares que havia para sentar, deixando aquele lugar livre.” O resultado pode ser visto nesse vídeo.

Os palestrantes também comentaram sobre o planejamento necessário para uma investigação. Refels defende que após um brainstorming inicial, a próxima etapa é fazer uma lista de fontes dentro de categorias como atores, especialistas e fontes oficiais. “Eu também incluo quem pode odiar ou servir como antagonista das fontes que eu já listei.” Uma tabela mostrada por Mintz mostra como sua equipe organizou as fontes adequadas para cada tipo de investigação, o que pode ajudar outros jornalistas.

Alley também procurou publicações específicas da área. “Era muito chato ler o Shiping Weekly, mas você se acostuma com aquela linguagem, o que te ajuda depois.”

Mintz lembra que nem tudo está na internet. “Hoje é tão fácil conseguir informações online que as pessoas esquecem de fazer aquele trabalho árduo de copiar documentos de arquivos empoeirados.” Outra dica, que funcionaria nos EUA, é analisar registros de doações para campanhas políticas. “Uma coisa importante de saber e difícil de identificar é quem é amigo de quem. Quando há campanhas políticas, as pessoas vão para festas de arrecadação de fundos onde encontram seus amigos. Então, se você procurar quem doou dinheiro no mesmo dia, é provável que elas sejam do mesmo círculo social”.

Texto e foto: Giulia Afiune (4º ano, Faculdade Cásper Líbero)

Serviço:

How other investigators do it

Jim Mintz Group (US), Manfred Redelfs/ Greenpeace (Germany), Patrick Alley/ Global Witness (UK) – moderador: Sheila Coronel/ Columbia University (Philippines) 

Segunda, 14 de outubro de 2013 – 9:00

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