Esforços para a proteção dos jornalistas

Proteger os jornalistas, mais do que nunca, é uma questão que precisa ser discutida e articulada em todos os âmbitos sociais. Não apenas para defender a integridade física dos profissionais, mas para garantir a liberdade de expressão e o direito de toda a sociedade à informação. Esse foi o tema do encontro “Proteção para jornalistas: mesa redonda sobre como melhorar a atuação da ONU e da OEA”, realizada na manhã do segundo dia (13) da 8ª Conferência Global de Jornalismo Investigativo. A conversa começou com a palavra da advogada Catalina Botero, Relatora Especial para Liberdade de Expressão da Organização dos Estados Americanos (OEA), sobre o papel governamental e internacional na proteção de jornalistas em três dimensões: prevenção, proteção e investigação criminal. “Os Estados têm a obrigação de ter um discurso público para prevenir a violência e encorajar os jornalistas em seu trabalho”, declarou a palestrante.

Jornalistas lideram em solicitações à Lei de Acesso, aponta CGU

Jorge Hage Sobrinho apresenta o balanço do governo federal sobre a Lei de Acesso à Informação. Foto: Louise Rodrigues
Das 124.394 solicitações realizadas em 18 meses de Lei de Acesso à Informação (LAI), 5,15% são de jornalistas, que lideram o perfil de solicitantes, segundo Jorge Hage, chefe da Controladoria Geral da União (CGU). A porcentagem equivale a 6.187 pedidos feitos por profissionais da comunicação, resultando numa média de 343,7 demandas mensais à LAI. Os dados foram apresentados no painel “Lei de Acesso à Informação: balanço de 18 meses”, realizado, nesta segunda (14), na PUC-Rio. A conferência fez parte da programação da Conferência Global de Jornalismo Investigativo, que acaba terça (15). Em comparação aos demais solicitantes, os jornalistas também são os que mais recorrem: uma média de 6,5%. Dos mais de 6 mil pedidos feitos pela categoria, 88% tiveram acesso concedido, 9% negado e 3% duplicados, informações inexistentes ou de competências de outros órgãos.

Diretora da IRE realiza treinamento sobre investigação através de análise de redes sociais

Quando se fala em análise de redes sociais, logo vem à mente Facebook, Twitter, Instagram e outras mídias digitais. Mas quando o assunto é investigação jornalística, o foco são os fundamentos por trás de conexões e relacionamentos entre pessoas. Este foi o tema da oficina “Análise de Redes Sociais para Investigações: usando o NodeXL no Excel para determinar influência e corrupção”, ministrada pela jornalista Jaimi Dowdell, diretora de treinamento da Investigative Reporters and Editors (IRE), realizada segunda (14), na PUC-Rio. Essa forma de análise exclui o que as pessoas dizem, suas opiniões ou suposições. “Trata-se apenas das conexões em si”, frisou Dowdell.

Como investigar fraudes nas áreas da saúde e da indústria farmacêutica

Ranbaxy:  medicamento para aidéticos adulterado
Ao longo de quatro anos, Katherine Eban, repórter da revista americana Fortune, investigou a adulteração dos remédios genéricos produzidos e prescritos não apenas nos Estados Unidos, mas também em diversos outros países como Brasil, Índia e Rússia. A extensa apuração da denúncia, feita por emails anônimos, levou à confirmação do que muitos já suspeitavam: no mundo todo, pacientes de doenças graves como câncer e Aids estavam sendo enganados por substâncias que não faziam o efeito que deveriam fazer. E pior: as agências de regulação dos países investigados não realizavam o controle da produção e da eficácia dos medicamentos como deveriam fiscalizar. A reportagem “Dirty Medicine” foi uma das apresentadas na mesa “Investigando pautas em saúde”, realizada nesta segunda (14), no terceiro dia da Conferência Global de Jornalismo Investigativo, na PUC-Rio, que também contou com a participação do jornalista venezuelano David González, do El Nacional e da nigeriana Rose Nwaebuni, do Pointer Newspaper. Segundo os jornalistas, para investigar denúncias na área de saúde é preciso persistência e preparo.

Cobertura dos protestos de junho foi “bipolar”, avalia Bruno Paes Manso

Apesar de ainda não estar registrado nos livros de história, o mês de junho de 2013 já pode ser considerado um momento emblemático para o Brasil. As manifestações populares tomaram as ruas e surpreenderam o país, incluindo os jornalistas, por sua dimensão e descentralização das reivindicações. Envolvida nesse cenário enigmático, a imprensa se viu diante de um “campo minado”, o que resultou em uma cobertura marcada por mudanças de posicionamento na abordagem dos protestos. “Nós fomos  um pouco bipolares, estávamos assustados, era tudo novo. Depois, houve os ataques da polícia e a gente mudou.

“Liberdade de expressão é o termômetro da sociedade democrática”, diz relator da ONU

“Somente uma sociedade bem informada pode exercer seu direito à participação democrática para poder construir opiniões e tomar livremente suas decisões”, afirma o relator especial sobre a promoção e proteção do direito à liberdade de opinião e de expressão da ONU, Frank La Rue. A crise na liberdade de expressão na imprensa foi debatida neste sábado 12 de outubro, na plenária de abertura da Conferência Global de Jornalismo Investigativo, que  acontece no Rio de Janeiro. Além de La Rue, a mesa contou com a presença da relatora especial para liberdade de expressão da Organização dos Estados Americanos (OEA), Catalina Botero, e com a diretora da divisão de comunicação estratégica do departamento de informação pública da ONU, Deborah Seward. Apenas 14% da população mundial vivem em países com plena liberdade de imprensa, é o que aponta o levantamento feito pela ONG Freedom House. Governos repressivos, como da Colômbia, Venezuela e Equador criaram órgãos especiais para controlar o trabalho da imprensa.

O acesso à informação como ferramenta

“O direito de saber é, antes de tudo, um direito humano”, ressalta Marina Atoji, gerente-executiva e redatora da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) e do Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas. Marina esteve ao lado de Claudia Collucci, jornalista especializada em saúde da Folha de S.Paulo, para apresentar a mesa “o direito de acesso a informações privadas de interesse público”, realizada no domingo (13), segundo dia da Conferência Global de Jornalismo Investigativo, que acontece na PUC-Rio até terça (15). O mediador Marcelo Beraba, diretor da sucursal do jornal O Estado de S.Paulo no Rio de Janeiro e diretor da Abraji,  explicou a importância desse novo debate após a criação da Lei de Acesso à Informação do Brasil (LAI). Mesa debateu o acesso à informação (Foto: Rodrigo Gomes/Abraji)
“Desde o início da Abraji, uma das nossas bases de trabalho é o direito de acesso à informação pública. Demos o primeiro passo e agora temos uma Lei que nos respalda para pedir essas informações.

Caco Barcellos e José Hamilton: duas gerações e uma só paixão

Ninguém queria perder a oportunidade de assistir a um dos encontros mais marcantes  do primeiro dia da Conferência Global de Jornalismo Investigativo, que acontece na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ) até terça-feira (15). Caco Barcellos, repórter e editor do “Profissão Repórter”, da TV Globo, e José Hamilton Ribeiro, responsável pela direção do tradicional “Globo Rural”, da mesma emissora, estiveram juntos, neste sábado (12), para compartilharem suas experiências e sua paixão em comum pelo jornalismo. O encontro entre as duas gerações da boa reportagem, oportunamente intitulado “Profissão: repórteres”, fez o número de público superar a capacidade do auditório. Aos que ficaram de fora, restou exigir a abertura das portas. Por fim, a palestra foi repetida.

Para diretor da IRE, jornalismo de dados é possível mesmo em países pouco transparentes

A transparência de governos e empresas desempenha papel importante para as investigações jornalísticas, mas, para Mark Horvit, diretor-executivo da Repórteres e Editores Investigativos (IRE, na sigla em inglês), “sempre é possível fazer jornalismo de dados, independente de onde você estiver”. Professor associado da Escola de Jornalismo da Universidade de Missouri, nos Estados Unidos, Horvit ministrou um workshop sobre uso de banco de dados para iniciantes, na Conferência Global de Jornalismo Investigativo. Segundo o jornalista, ótimos dados têm vindo de países onde o governo não colabora com a divulgação de números. “Em alguns países há a quantidade mínima (de informação), e em alguns lugares o governo não dá dado algum. Você encara matérias diferentes e, também, maneiras diferentes de conseguir o conteúdo”, destaca Horvit, especialista em Reportagem Assistida por Computador (RAC) e participante de programas como o Instituto Nacional de Reportagem Assistida por Computador (Nicar, na sigla em inglês).

O jornalismo de prateleira e a necessidade de buscar novas fontes

Com mais de 40 anos de experiência como jornalista, José Paulo Kupfer, palestrante da mesa “Velhas Fontes, Velhos Vícios: Como renovar as vozes do jornalismo econômico”, do segundo dia da Conferência Global de Jornalismo Investigativo, foi categórico em sua análise sobre a atual conjuntura da cobertura jornalística de economia. O colunista do Estadão criticou o que ele chama de “jornalismo de prateleira”. José Paulo Kupfer na GIJC 2013
Para Kupfer, há entre os profissionais das redações uma acomodação na busca por novas fontes,  fenômeno que considera ainda mais recorrente no jornalismo econômico, resultando em uma cobertura hegemônica, ausente de visões diversificadas sobre a economia brasileira. “É como se as fontes estivessem nas prateleiras do supermercado. O repórter chega na redação e sabe o que vai encontrar.