Ninguém queria perder a oportunidade de assistir a um dos encontros mais marcantes do primeiro dia da Conferência Global de Jornalismo Investigativo, que acontece na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ) até terça-feira (15).
Caco Barcellos, repórter e editor do “Profissão Repórter“, da TV Globo, e José Hamilton Ribeiro, responsável pela direção do tradicional “Globo Rural“, da mesma emissora, estiveram juntos, neste sábado (12), para compartilharem suas experiências e sua paixão em comum pelo jornalismo.
O encontro entre as duas gerações da boa reportagem, oportunamente intitulado “Profissão: repórteres”, fez o número de público superar a capacidade do auditório. Aos que ficaram de fora, restou exigir a abertura das portas. Por fim, a palestra foi repetida.
Apesar das diferenças de idade, formatos explorados, pautas e experiências entre os dois ícones do jornalismo, o clima foi o mesmo: respeito e amor pela profissão. Caco falou de sua admiração por Hamilton, a quem chamou de “grande ídolo” e o descreveu como “um dos repórteres mais experientes do mundo, que sempre foi um exemplo de dignidade e bom caráter no exercício cotidiano da profissão.”
Hamilton ressaltou que a chamada crise do jornalismo não se dá por ausência de mão de obra: “a crise não é por falta de repórteres, nem porque o repórter de hoje é diferente do passado. Temos bons profissionais. As dificuldades do momento estão relacionadas às mudanças estruturais.”
Os jornalistas esclareceram dúvidas e discutiram o jornalismo investigativo que se faz no Brasil, além de ressaltarem a importância de não confundir esse gênero com o puro denuncismo. “O jornalismo investigativo não é só denúncia. Toda matéria precisa de investigação para contar uma boa história, e se a pauta é uma denúncia deve ter mais atenção ainda”, afirmou Barcellos, enfatizando que o repórter precisa dar oportunidade para o acusado se defender e, dessa forma, não mostrar uma certeza absoluta.
Caco relembrou o início de sua carreira, época em que conciliava o estágio com a profissão como taxista. “Quando [os colegas de redação] descobriram que eu trabalhava como taxista há cinco anos, recebi um pedido do meu chefe para fazer uma matéria sobre essa experiência e contar histórias que a vivência no meio me proporcionou. E de onde eu menos pensava veio minha primeira matéria assinada.”
Não menos experiente, Elvira Lobato, responsável pela moderação da mesa, completou a experiência vivenciada por Caco argumentando sobre a necessidade de usar nas pautas o conhecimento que o repórter aprendeu com a vida. “Cada um tem um conhecimento. A sua própria história te qualifica e provoca em você um olhar diferenciado. Esse é um trunfo que o jornalista deve explorar.”
Barcellos falou também do “Profissão Repórter”, que comanda desde 2006. Ele contou que o projeto, de sua autoria, surgiu da necessidade de sanar os problemas existentes no processo de produção da notícia. “Quando ia para a rua cobrir uma matéria junto com o cinegrafista, notava que eu pensava de uma forma e ele de outra. Então veio a ideia de criar um projeto em que cada repórter ficasse responsável por todos os processos da notícia: apuração, produção, reportagem e edição”.
Segundo Caco, dominar todos os processos garante o envolvimento total em contar uma história. “Dessa forma tratamos um mesmo assunto de uma forma mais arejada, são no mínimo nove olhares diferentes mostrando os bastidores da mesma notícia.”
Quando o assunto foi o uso da internet na produção jornalística, os palestrantes concordaram com os benefícios que ela traz, mas alertaram sobre seus malefícios. “Confiar na internet é um risco muito grande, mas também está perdido o jornalista que não sabe usá-la”, disse Hamilton.
Para Barcellos, a internet é uma ferramenta, mas não a base de toda matéria. “Muito bom aumentar seu conhecimento através de pesquisas na internet e aproveitar as ferramentas que ela te proporciona. O problema que muitos jornalistas não entendem é que a matéria pode começar pela internet, mas a melhor parte dela certamente estará na rua. É indo pra rua que o repórter descobre o novo, o diferente e um excelente personagem.”
Os experientes repórteres de rua deixam para os estudantes e profissionais motivos para acreditar cada vez mais no jornalismo investigativo. “Toda reportagem deve terminar com um bom filme: boa o suficiente para depois dos créditos o público pedir mais”, pontua José Hamilton.
Texto: Juliane Oliveira (4º ano na FACHA – Faculdades Integradas Hélio Alonso)
Vídeo: Cristiane Paião (4° ano Cásper Líbero), Deborah Rezaghi (3º ano Cásper Líbero) Luiza Ramos (4º ECO/UFRJ), Renata Fontanetto (4° ano ECO/UFRJ)
Foto: Juliane Oliveira (4º ano na FACHA – Faculdades Integradas Hélio Alonso)
Serviço:
Profissão: repórteres
Com Caco Barcellos (TV Globo/Brasil), José Hamilton Ribeiro (TV Globo/Brasil) – moderador: Elvira Lobato (Brasil)
Sábado, 12 de outubro de 2013 – 11:00