Os confrontos armados na Síria, Líbia e Egito têm ocupado as primeiras páginas dos principais jornais do mundo, além dos escassos minutos dos noticiários televisivos em escala global. E não é para menos, afinal desde o início da guerra civil em território sírio, em março de 2011, mais de 100 mil pessoas foram mortas e atingiu-se um total de 2 milhões de refugiados, de acordo com dados divulgados pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH).
Outras guerras, no entanto, produzem anualmente índices de dimensões similares, sem que recebam igual visibilidade na imprensa internacional. É o caso do combate ao crime organizado no México que, em 2012, tirou o dobro de vidas de conflitos no Iraque e no Irã.
Em conferência realizada nesta segunda (14), terceiro dia da Conferência Global de Jornalismo Investigativo, na PUC-Rio, o jornalista Ricardo Ravelo, da revista Variopinto, apresentou um panorama da questão que virou objeto dos livros El narco en México: lo que hay que saber (O narcotráfico no México: o que é preciso saber – 2011) e Narcomex (2012).
Os braços de influência do crime organizado exercem controle sobre diversas esferas da vida pública, já que o Estado tem se mostrado incapaz de desarticulá-los.
Grupos que atuam segundo a lógica da narcopolítica – vinculação da classe política no poder e as redes de narcotráfico -, dominam o tráfico de pessoas, o contrabando de mercadorias, centros de apostas, cassinos e restaurantes, além da prostituição e do tráfico de menores. “A situação no México se torna muito complicada, pois o crime organizado está em todas as partes. Trata-se de uma uma rede social que sustenta o tráfico e protege as organizações criminosas”, explica o jornalista mexicano.
Como consequência, a imprensa crítica e investigativa é afetada diretamente. Em 2011, o México foi eleito o país mais perigoso para a prática do jornalismo com dez mortos, à frente de países como Iraque, Paquistão e Iêmen. A impunidade, no entanto, continua a ser uma regra em se tratando dos ataques a esses profissionais: de cada 100 delitos, apenas dois são investigados, o que representa um índice de 98% de impunidade.
O cenário parece se repetir em países de outras regiões do mundo, como a Sérvia e Guiné-Bissau. Nos últimos quatro anos, Stevan Dojcinovic, do Serbian Center for Investigative Journalism, tem se dedicado a trazer a público o esquema da rede criminosa que constitui a espinha dorsal do tráfico de drogas da Europa nos Balcãs.
Ele também destaca a relação entre os criminosos e grandes empresários e políticos que permanecem imunes mesmo após a exposição midiática e a incapacidade da polícia de prendê-los. “Você pode expor os políticos, mas eles não serão punidos. Você não pode tocá-los”, explica.
Já Allen Embalo, correspondente local da Radio France na Guiné-Bissau, responsabiliza a instabilidade política pelo fortalecimento do crime organizado em seu país, onde nenhum governo conseguiu completar um mandato desde a Independência, em 1974. Além disso, a posição geográfica dificulta o controle das fronteiras por parte das instituições reguladoras: localizada na costa oeste do continente africano entre o Senegal e a Guiné-Conacri, conta com 88 ilhas, das quais apenas 33 são habitadas.
O país se tornou ponto-chave na rota do tráfico de drogas que parte dos Balcãs em direção à Europa ocidental, passando também pelo Líbano e pela África do Sul.
Veja mais sobre os índices de violência nos países: http://www.youtube.com/watch?v=d3M3tMfTf98&feature=youtu.be
Texto: Isabela Dias (4º ano, ECO/UFRJ)
Serviço:
Narco-Mafias
Com Ricardo Ravello (Variopinto – México), Stevan Dojcinovic (Serbian Center for Investigative Journalism – Sérvia) e Allen Embalo (Guiné-Bissau Association of Journalists) — mediação de Vivienne Walt (Time France)
Segunda-feira, 14 de outubro de 2013 – 11:00