Cobertura ambiental e investigação

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O troféu do veterano jornalista Mark Shapiro, há duas décadas na cobertura de meio ambiente, é uma pedra do tamanho de um punho suja de petróleo. Na palestra Vanguarda da Reportagem Ambiental, na 8ª Conferência Global de Jornalismo Investigativo, Shapiro contou a história de como ela foi em suas mãos. Tudo começa numa manhã de 2002, quando o jornalista americano lia uma reportagem do New York Times sobre o petroleiro Prestige, que havia naufragado na costa da Espanha e provocara um dos maiores desastres ambientais de derramamento de óleo da história europeia. A primeira pergunta que lhe veio a cabeça foi: “por que esse navio está registrado nas Bahamas, se os proprietários são da Grécia?”.

O questionamento levou Shapiro à paradisíaca praia da Galícia, no norte da Espanha, cenário do desastre e local onde encontrou a tal pedra que hoje enfeita sua mesa de trabalho. E, dali, foi em busca do responsável pelo crime ambiental.

“Eu mergulhei neste mundo naval para poder descobrir os responsáveis. O petroleiro Prestige foi registrado nas Bahamas, pois lá não tem uma legislação, inspeção para fiscalizar este tipo de embarcação. Dois terços dos petroleiros são registrados na Libéria, onde também não há fiscalização rígida”, contou o repórter que hoje trabalha para o Centro para Reportagem Investigativa (CIR, na sigla em inglês).

Para Shapiro, histórias jornalísticas começam com boas perguntas, que levam a hipóteses e “te abrem caminhos e portas do pensamento”. O americano considera ser função fundamental para o jornalismo ambiental investigar os responsáveis por este tipo de crime, cujos culpados sempre tentam se isolar da responsabilidade pelos danos causados.

“Jornalismo ambiental precisa ser trabalhado de forma multidisciplinar”

Autor do livro Exposed: The Toxic Chemistry of Everyday Products and What’s at Stake for American Power, Mark Shapiro defende que o jornalismo ambiental seja pensado de forma global, pois envolve diversas áreas de atuação.

“Estes casos ambientais muitas vezes envolvem  crimes, muito dinheiro, finanças, tramas internacionais e, claro, ciência. É preciso pensar o jornalismo ambiental globalmente”, disse o jornalista durante a palestra.

A mesma opinião é compartilhada pela jornalista indiana Subhra Priyadarshin, também presente no debate. Editora da publicação Nature India, ela tem se dedicado a buscar evidências sobre o desaparecimento de ilhas e, para isso,  conta com a ajuda do Google Maps. Subhra afirmou que se aproximar da produção científica é essencial para quem cobre esta área.

“É preciso perseguir a avaliação dos cientistas, buscar análises de laboratórios, consultar associações de cientistas e explorar as informações que eles dão sobre o meio ambiente e que os governos querem esconder”, explica Subhra, que indicou as revistas científicas como importantes fontes de informação para os jornalistas da área.

A importância do jornalismo de dados

“Utilizar dados obtidos por satélites pode ser o ponto de partida para o cruzamento de dados que vão apontar problemas ambientais”, disse Gustavo Faleiros, editor do site O Eco, também palestrante da mesa. Criado em 2004, O Eco é uma organização sem fins lucrativos que reúne conteúdo de uma rede de jornalistas, especialistas e voluntários que trabalham com meio ambiente.

“Com os dados que conseguimos, nós investigamos e fazemos reportagens. Além disso, damos suportes para os jornalistas ambientais seguirem com suas investigações”.

Segundo ele, a partir da rede de trabalho formada pela equipe do site, foi possível avaliar a situação da Floresta Amazônica. “Temos dados registrados sobre o desmatamento na Amazônia desde 1976. Nós conseguimos também dados sobre a atividade pecuária que nos permitem desvendar casos e observar o desflorestamento da Amazônia ao longo dos anos. Acumulamos informações sobre as concessões de minerações e disponibilizamos isso em mapas”, revelou o jornalista.

Faleiros considera que poder fazer um trabalho com precisão é uma das vantagens de usar base de dados . Os mapas feitos pela publicação podem ser compartilhados gratuitamente por outros sites, blogs e ONGs.

A equipe de O Eco está envolvida neste momento com um projeto que mapeia notícias e dados sobre a Floresta Amazônica. Faleiros explicou mais sobre o projeto em entrevista à equipe de cobertura do Congresso.

Texto: Tiago Coelho (3º ano PUC-Rio)

Serviço:

A Vanguarda do Jornalismo Ambiental

Com Gustavo Faleiros (Editor Eco, Brasil), Mark Schapiro (Center for Investigative Reporting, EUA) e  Subhra Priyadarshin (Editora Nature India, Índia) — mediação de Jan Gunnar Furuly (Presidente da SKUP, Noruega)

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