Trazer a público documentos que estão fora do alcance da população é o objetivo de Matheus Leitão e Rubens Valente, da Folha de S.Paulo, quando publicam reportagens investigativas sobre a história brasileira. Na mesa “Arquivos ocultos da ditadura”, eles explicaram o processo de investigação destas reportagens.
Há cerca de dois anos, eles iniciaram um projeto que se desenvolveu em três frentes. A primeira foi maior divulgação em massa dos telegramas produzidos pelo Ministério das Relações Exteriores. Depois, os repórteres se engajaram na leitura de 250 processos para entender como funciona a impunidade no Brasil. Já na terceira etapa, foram divulgados diversos documentos dos arquivos ocultos da ditadura. Todos os arquivos encontrados pelos dois em suas pesquisas estão disponíveis no site da Folha Transparência, um portal do jornal que oferece livre acesso a este conteúdo.
Em julho do ano passado, os jornalistas começaram uma busca nos arquivos de nove ministérios. Conseguiram ter acesso a vários deles e publicar uma série de reportagens. “Nós fizemos um levantamento para ver quais ministérios que continham arquivos da época da ditadura e durante nossas buscas tivemos muitas dificuldades em ter acesso aos papéis. Eles negavam sem motivo nenhum.”, afirmou Leitão.
Dentre casos e histórias revelados pela dupla de jornalistas está a de Alberto Courado, que, misturado aos exilados brasileiros no Uruguai, mandava informações ao governo. Outra revelação foi a descoberta de que o governo militar brasileiro emprestou cerca de US$150 milhões ao general e presidente do Chile, Augusto Pinochet.
A censura dos fatos que acontecia naquela época ainda continua. “Teve um ministério específico que eu só podia pesquisar uma vez por semana, em uma determinada hora, com um oficial que ficasse do meu lado”, revela Velente. Neste ministério, Valente conseguiu ler apenas 200 páginas das 16 mil existentes. Um documento encontrado por eles, elaborado entre os anos da repressão, revela que 19 mil arquivos foram queimados — desde aquela data, 400 mil foram queimados ou sumiram. Esta atitude era o que os generais chamavam de Operação Polvo.
Texto: Juliana Granato (4º ano, PUC-Rio)
Serviço:
Arquivos ocultos da ditadura
Com Rubens Valente (Folha de São Paulo) e Matheus Leitão (Folha de São Paulo) — mediação de Ivana Moreira (Veja BH)
Domingo, 13 de outubro de 2013 – 16:00