Ao longo de quatro anos, Katherine Eban, repórter da revista americana Fortune, investigou a adulteração dos remédios genéricos produzidos e prescritos não apenas nos Estados Unidos, mas também em diversos outros países como Brasil, Índia e Rússia.
A extensa apuração da denúncia, feita por emails anônimos, levou à confirmação do que muitos já suspeitavam: no mundo todo, pacientes de doenças graves como câncer e Aids estavam sendo enganados por substâncias que não faziam o efeito que deveriam fazer. E pior: as agências de regulação dos países investigados não realizavam o controle da produção e da eficácia dos medicamentos como deveriam fiscalizar.
A reportagem “Dirty Medicine” foi uma das apresentadas na mesa “Investigando pautas em saúde”, realizada nesta segunda (14), no terceiro dia da Conferência Global de Jornalismo Investigativo, na PUC-Rio, que também contou com a participação do jornalista venezuelano David González, do El Nacional e da nigeriana Rose Nwaebuni, do Pointer Newspaper.
Segundo os jornalistas, para investigar denúncias na área de saúde é preciso persistência e preparo. Visitar os laboratórios das empresas e das universidades e entender o processo de criação e produção dos medicamentos é essencial.
“É preciso estudar a fundo a estrutura da legislação sobre pesquisa, produção e venda dos medicamentos, que é diferente em cada país. Além disso, é preciso entender quais são as principais questões e os interesses que estão envolvidos nesta área, como é feita a regulação, quem fez essa legislação, como e porquê e, principalmente, como o estado banca os serviços oferecidos à população”, aponta Katherine Eban, dando dicas aos estudantes que pretendem se aventurar nas investigações da área.
Para a nigeriana Rose Nwaebuni, além da técnica, é fundamental ter paixão. Ela se debruçou por meses no sistema de saúde do país e conheceu histórias de abandono e pouco caso por parte dos próprios profissionais que deveriam atender os pacientes. Mesmo rico, a Nigéria ainda é um país que não soube administrar os cuidados com a grande parte da população que vive abaixo da linha da probreza.
“É um caminho longo e difícil, vai demorar, você vai correr riscos, mas no final você precisa sentir que valeu a pena denunciar, porque pode mobilizar as autoridades, mas isso exige ser apaixonado pela pauta”, destaca.
Texto e foto: Cristiane Paião (4º ano/ Faculdade Cásper Líbero)
Serviço:
Investigando pautas em saúde, com Katherine Eban/ Fortune (US), David González/ El Nacional (Venezuela) e Rose Nwaebuni/ Pointer Newspaper (Nigeria) – mediação: Marty Steffens/ University of Missouri (US)
Segunda-feira, 14 de outubro de 2013 – 9:00