O lado amargo da história: investigando a indústria alimentícia

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Indústria de Alimentos 14-10 Rodrigo Gomes
Giulio Rubino, Cecília Anesi, Nils Mulvad e Brant Houston durante a mesa “Investigando a Indústria alimentícia” no 8º Congresso Global de Jornalismo Inestigativo.

“A indústria de alimentos é vasta e global”, afirma Brant Houston, da Universidade de Illinois, iniciando a apresentação “Investigando a Indústria Alimentícia” no terceiro dia (14) da 8ª Conferencia Global de Jornalismo Investigativo. No entanto, por mais que as ações das empresas do ramo afetem de diferentes maneiras as pessoas no mundo todo, ainda existe pouca verificação sobre temas como o trabalho escravo, subsídios governamentais e questões ligadas ao meio ambiente.

Houston destaca que, por serem empresas multinacionais, existem dados disponíveis em diversas instituições e é preciso organizar essas informações e divulgá-las. Uma base de dados útil é o Midwest Center for Investigation Report , uma iniciativa sem fins lucrativos dedicada a divulgação de notícias e investigações que envolvem a indústria alimentícia nos Estados Unidos.

Nils Mulvad, da Escola de Mídia e Jornalismo da Dinamarca, observa que o uso de novas tecnologias em casos como esse, tem se tornado uma grande aliada dos jornalistas. Elas dão a possibilidade de integrar as localidades que sofrem com os mesmos problemas causados pelas empresas de produção de alimentos. Quando as questões se repetem é mais fácil integrar as pessoas para uma solução. “Sabemos como conseguir as informações, temos que ir atrás e lutar por elas. Já que as consequências vão nos atingir de qualquer jeito”, afirma. Ele participou de investigações sobre o milho transgênico distribuído pela Monsanto na Europa.

A influência contra a informação

O ramo da indústria da produção de alimentos envolve grandes empresas e organizações de agricultores que têm influência e dinheiro para interferir, por exemplo, em pesquisas científicas que poderiam prejudicar seus negócios. Segundo Mulvald, existe um trabalho de lobby para que as informações não cheguem à população.

Uma forma de combater esse mal é usar as leis de acesso à informação e cobrar uma maior fiscalização por parte dos órgãos oficiais.

Outros dois participantes da mesa, Giulio Rubino e Cecília Anesi, do Investigative Reporting Project Italy, contaram detalhes das suas investigações sobre empresas de produção de alimentos ligadas a máfia na Itália.

A reportagem feita por Giulio Rubino mostrava que o azeite consumido em muitos países do mundo era adulterado. A empresas misturavam o produto com outro de baixa qualidade e colocavam uma informação falsa nas embalagens. Nas palavras de Rubino: “as empresas davam aquilo que os consumidores queriam”. Etiquetavam o azeite como “extra-virgem” quando na verdade era uma mistura de óleos que, no final, barateavam o custo.

Na investigação de Anesi  sobre a produção do molho de tomate italiano falsificado na China, publicada pelo jornal The Guardian, a repórter descobriu diversas irregularidades, entre elas o estado de conservação do produto.“Se houvesse mais transparência com a divulgação da matéria-prima utilizada em produtos alimentares, teríamos subsídio para lidar melhor com essas empresas” afirma Anesi.

Anesi recolheu relatos de consumidores que afirmaram encontrar vermes no alimento. Segundo a repórter, um dos maiores problemas é a legislação pouco severa a qual estão submetidas estas companhias. Anesi conta que diversas vezes foi preciso recorrer a processos para que as informações viessem à tona.

Para Mulvad, o jornalismo investigativo precisa primeiro trabalhar localmente e observar os tipos de impactos causados pelas indústrias de alimentos. Depois, deixar os dados disponíveis para que outros jornalistas tenham base para combater a influência dessas empresas pelo mundo. “Quando se está em busca de informações sobre empresas como a Monsanto, que tem um alcance global e que atinge as pessoas localmente, tem que se ter atenção e não cometer erros. Temos que estar atrás deles pelo que eles realmente falaram e não pelo que querem dizer”.

Texto: Fernanda Távora (4º ano, ECO/UFRJ); Katryn Dias (4ºano, ECO/UFRJ)

Foto: Rodrigo Gomes (4º ano, Anhembi Morumbi)

Serviço:

Investigando a Indústria Alimentícia

Cecília Anesi (Investigating Reporting Porject Italy); Giulio Rubino (Investigating Reporting Porject Italy); Nils Muvald (Danish School of Media e Journalism); Brant Houston (University of Illinois)

Segunda,14 de outubro de 2013 – 13:45

 

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