Cobertura do Vaticano: rupturas na Igreja e a falta de profissionais especializados

O Vaticano tem sido destaque em jornais do mundo todo por conta de publicações constantes de reportagens sobre escândalos envolvendo pedofilia, corrupção e relações suspeitas com o poder. O choque da renúncia do papa conservador alemão Bento XVI e a surpresa diante da postura simpática e diplomática do papa Francisco, um jesuíta argentino, alimentaram as esperanças de mudanças no mundo clerical.  Mas quais as possibilidade reais de um só homem realizar rupturas profundas no Vaticano? De acordo com Clovis Rossi, jornalista que cobriu a sucessão de Bento XVI para a Folha de S.Paulo, o momento ainda é de reflexão. Segundo ele, diante de muita euforia e pouca concentricidade, ainda há muito que se saber e esclarecer sobre o “Chico Buarque de Holanda universal”, como chegou a se referir ao papa Francisco Gregorio.

Um perfil do jornalismo investigativo ao redor do mundo

Mzilikazi wa Afrika, David Leigh, Sheila Coronel, Gustavo Gorritti e Rana Sabbagh (Foto: Carolina Lomelino)
Cinco expoentes do jornalismo investigativo no mundo trocaram experiências sobre trabalhos recentes e conversaram sobre os rumos da profissão no primeiro dia da Conferência Global de Jornalismo Investigativo. Reunidos no ginásio da PUC-Rio, a professora de prática profissional em jornalismo investigativo na Universidade de Columbia, Sheila Coronel, mediou o encontro entre renomados jornalistas investigativos como David Leigh, da Inglaterra, e Gustavo Gorritti, do Peru. Também participaram do debate Mzilikazi wa Afrika, presidente do Fórum do Jornalistas Investigativos Sul-africanos, e Rana Sabbagh, diretora da  Arab Reporters for Investigative Journalism (ARIJ). Nos países onde atuam, todos relataram enfrentar pressões políticas, econômicas e sociais. O sul-africano Mzilikazi wa Afrika ganhou um processo judicial e o principal prêmio de jornalismo investigativo do país, após escrever sobre seu sequestro e prisão motivados por uma denúncia de superfaturamento no valor do aluguel de um prédio pelo governo africano. “Se você não for corajoso, não consegue fazer uma grande investigação”, ponderou Afrika.

Talend: uma ferramenta para o jornalismo de dados

 

Uma das maiores dificuldades dos jornalistas na hora de trabalhar com dados é a organização, já que geralmente os softwares disponíveis não são capazes de eliminar ruídos na informação, como agrupar palavras escritas de forma parecida. O Talend Open Studio pode resolver estes problemas, de acordo com Giannina Segnini, jornalista do La Nación in San José, da Costa Rica. Ela apresentou as funcionalidades do programa durante uma palestra na segunda manhã da Conferência Global de Jornalismo Investigativo 2013. O software de interface simples é gratuito e disponível on-line, criado para extrair, transferir e limpar grandes bancos de dados. O Talend aceita arquivos em qualquer formato e permite gerenciar processos simultaneamente. Giannina Segnini demonstrou como transferir arquivos do Excel para o Talend (Foto: Carolina Lomelino)

Giannina Segnini disse utilizar a ferramenta no dia-a-dia como editora investigativa.

Refinamento de dados em investigações: Microsoft Access e Google Refine

O primeiro dia da 8ª Conferência Global de Jornalismo Investigativo contou com uma programação recheada de oficinas sobre ferramentas digitais para facilitar o dia-a-dia dos jornalistas em suas investigações. “Bancos de dados não mentem para você, eles não dizem que vão te ligar depois nem ‘dizem sem comentários’, declarou o jornalista Mark Horvit, diretor-executivo da Repórteres e Editores Investigativos (IRE, na sigla em inglês). O palestrante, ao lado da treinadora da IRE, Jaimi Dowdell, deu dicas básicas para os participantes usarem o programa Microsoft Access durante a oficina “Uso de base de dados em investigações: como evitar erros e limpar dados”, realizada nesse sábado de manhã. À tarde, foi a vez do professor Nils Mulvad, da Escola Dinamarquesa de Mídia e Jornalismo, e do sociólogo Peter Verweij, fundador e diretor da empresa de consultoria e treinamento D3-Media, ensinarem a usar o software Google Refine na oficina “Como usar o Open Refine para limpar dados”. Veja abaixo como funcionam as ferramentas:

1.

Investigações sobre arquivos ocultos da ditadura

Trazer a público documentos que estão fora do alcance da população é o objetivo de Matheus Leitão e Rubens Valente, da Folha de S.Paulo, quando publicam reportagens investigativas sobre a história brasileira. Na mesa “Arquivos ocultos da ditadura”, eles explicaram o processo de investigação destas reportagens. Há cerca de dois anos, eles iniciaram um projeto que se desenvolveu em três frentes. A primeira foi maior divulgação em massa dos telegramas produzidos pelo Ministério das Relações Exteriores. Depois, os repórteres se engajaram na leitura de 250 processos para entender como funciona a impunidade no Brasil.

A voz dos sobreviventes do ‘holocausto brasileiro’

No domingo (13) à tarde, uma fila se estendia pelo pilotis da PUC-Rio. O motivo era a sessão de autógrafos do livro da jornalista mineira Daniela Arbex, “O Holocausto Brasileiro”, em meio à Conferência Global de Jornalismo Investigativo. Na obra, a autora resgatou os horrores do Hospital Colônia de Barbacena, em Minas Gerais, responsável pela morte de mais de 60 mil pessoas. Sessão de autógrafos com Daniela Arbex (Foto: Guilherme Ramalho)
Inaugurado em 1903, o maior hospício do Brasil recebia, em condições desumanas, pessoas sem sintomas de loucura ou insanidade. Repórter do jornal Tribuna de Minas, Daniela descobriu o caso em 2009, folheando um livro que continha parte de fotos do interior do hospício feitas pelo fotógrafo Luiz Alfredo, da revista “O Cruzeiro”, em 1961.

Sensibilidade é fundamental na cobertura de tragédias, defende jornalistas

“A técnica que você usa para entrevistar um político ou um empresário não funciona para entrevistar vítimas de tragédias”, explica Shapiro. (Foto: Giulia Afiune)
Carlos Alexandre, filho de militantes de esquerda, foi torturado ainda bebê durante a ditadura militar.  Com dificuldades para viver em sociedade, foi diagnosticado com fobia social e morreu este ano. “Pensei que seria interessante investigar essa história porque não são comuns casos de crianças que sofreram tortura durante a ditadura”, revela a jornalista Solange Azevedo, autora da reportagem “A ditadura não acabou”, publicada na revista IstoÉ, em janeiro de 2010. Solange participou da palestra “cobertura de desastres e traumas – como fazer investigações com sensibilidade”, realizada domingo (13), na Conferência Global de Jornalismo Investigativo, que acontece na PUC-Rio até terça (15).

Documentários Investigativos: diferentes formatos para a TV

A forma mais pura do documentário usada para investigações jornalísticas. Essa é a ideia de formato que Tom Giles, editor do programa Panorama da BBC, usa para contar os casos mais diversos de investigação dentro e fora do Reino Unido. Em palestra mediada pela jornalista independente e diretora da Associação Holandesa de Jornalismo Investigativo (VVOJ), Margo Smit, Giles contou sobre alguns documentários que renderam críticas e elogios. Texto: Fernanda Prestes (4º ano ECO/UFRJ)

Rostos invisíveis: De frente com as faces ocultas do jornalismo

Três grandes nomes estiveram presentes na palestra sobre Reportagem com Câmera Escondida no segundo dia da Conferência Global de Jornalismo Investigativo 2013, um deles foi Eduardo Faustini, jornalista da TV Globo. André Luiz Azevedo, também da TV Globo e Fernando Molica, ex-diretor da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e editor no jornal O Dia, também participaram da mesa. Conhecer o rosto de Eduardo Faustini foi privilégio dos cerca de 150 participantes presentes, já que não foi permitido filmar ou fotografar o especialista em câmera escondida.“Eu consigo fazer meu trabalho por causa desta ocultação”, explicou o repórter. Enquanto Eduardo Faustini mantem sua identidade resguardada, André Luiz Azevedo é muitas vezes o rosto de suas reportagens. “O Faustini me botou na cara do gol e eu tive o privilégio de não chutar pra fora” elogiou o colega de trabalho. Durante a palestra, foram citados exemplos de matérias feitas com câmera escondida. Foi exibida uma reportagem sobre denúncias de abuso sexual de um médico ortopedista que atendia pacientes em um Posto de Atendimento Médico (PAM), da Zona Norte do Rio de Janeiro. Na opinião de Faustini, a repórter encarregada de flagrar as atitudes indevidas do médico conseguiu o melhor enquadramento da câmera escondida até hoje.

Cobertura ambiental e investigação

O troféu do veterano jornalista Mark Shapiro, há duas décadas na cobertura de meio ambiente, é uma pedra do tamanho de um punho suja de petróleo. Na palestra Vanguarda da Reportagem Ambiental, na 8ª Conferência Global de Jornalismo Investigativo, Shapiro contou a história de como ela foi em suas mãos. Tudo começa numa manhã de 2002, quando o jornalista americano lia uma reportagem do New York Times sobre o petroleiro Prestige, que havia naufragado na costa da Espanha e provocara um dos maiores desastres ambientais de derramamento de óleo da história europeia. A primeira pergunta que lhe veio a cabeça foi: “por que esse navio está registrado nas Bahamas, se os proprietários são da Grécia?”. O questionamento levou Shapiro à paradisíaca praia da Galícia, no norte da Espanha, cenário do desastre e local onde encontrou a tal pedra que hoje enfeita sua mesa de trabalho. E, dali, foi em busca do responsável pelo crime ambiental.