Quatro reportagens investigativas que abalaram governos da América do Sul

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Mesa apresentou investigações que deram resultados nos países.

Mesa apresentou investigações que deram resultados nos países.

Corrupção, escândalos com fraudes de contratos e violação de leis em países da América do Sul foram os elementos presentes na palestra “Investigações sobre negócios ilegais”, na manhã desta terça-feira (15), último dia da Conferência Global de Jornalismo Investigativo. Profissionais da Colômbia, Equador, Chile e Brasil apresentaram detalhes de como realizaram investigações sobre escândalos nacionais e abordaram os resultados do trabalho na mudança da realidade dos países.

Confira investigações marcantes:

1)    Colonos sem terra, violência de organizações paramilitares e apropriações de empresas na Colômbia

A jornalista Ivonne Rodrigues, do “Verdad Abierta”, trouxe ao público os detalhes sobre sua investigação a respeito das terras e a violação dos direitos de camponeses, índios e afrodescendentes na Colômbia. O foco da investigação foi a reserva de Altillanura, zona que o presidente Juan Manuel Santos prioriza para a ocupação de empresas chamadas de “locomotoras agrícolas”. No entanto, um passado obscuro faz parte da história dessas terras.

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Víctor Carranza, empresário chamado de “rei das esmeraldas”. (Foto: Reprodução)

Apesar da imprecisão de órgãos oficiais, estima-se que 10 milhões de hectares tenham sido arrebatados com violência, passando por organizações paramilitares como a “Los Carranceros” . Além disso, a lei 160 de 1994 proíbe que propriedades baldias, que pertencem à nação, sejam ocupadas por empresas – que atualmente dominam a região. São elas “La Fazenda”, grupo que cria suínos e soja para venda de carne de porco em 16 mil hectares que eram de camponeses; “Brigard & Urrutia”, no caso “el hato de Cabiona”,que detém 27 mil hectares em Puerto Gairtán, onde líderes foram assassinados pela organização do empresário Carranza;  “Poligrow”, que comprou terras tomadas em um massacre das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), em Mapiripán, em 1997.

O resultado, até o momento, foi a renúncia do embaixador da Colômbia nos Estados Unidos, Carlos Urrutia, que tinha ligação com as empresas denunciadas. Ninguém foi preso, mas processos ainda estão sendo julgados na Justiça para a devolução das terras.

Confira a apresentação da palestrante neste link!

2)      Paraísos fiscais do presidente da Casa da Moeda no Brasil

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Luiz Denucci, ex-presidente exonerado da Casa da Moeda. (Foto: Reprodução)

A segunda apresentação foi dos jornalistas Andreza Matais e José Roberto Credendio, dupla que atuou na “Folha de S. Paulo” e foi responsável por desmascarar um escândalo envolvendo o ex- presidente da Casa da Moeda, Luiz Denucci, que desviava dinheiro da instituição para paraísos fiscais. Os registros são de 2009 a 2011, época em que já estava à frente da empresa.

A partir de uma denúncia de apenas duas folhas recebida pelos jornalistas, a investigação se transformou em um dossiê. Nele, foram descobertas contas no nome da filha de Denucci em “offshores” nas Ilhas Virgens Britânicas, onde foram parar cerca de US$ 25 milhões de “comissões” recebidas pelo presidente da Casa da Moeda – na verdade recompensas por fraudes em contratos com empresas de diversos países. Além de dados obtidos pelo portal sunbiz.org, uma ajuda foi fundamental: a denúncia de Martins, o sócio insatisfeito de Denucci. “Quando a quadrilha briga, a imprensa se beneficia”, disse Andreza.

Como resultado, Denucci foi exonerado do cargo em janeiro de 2012, um dia antes de a reportagem ser publicada. No entanto, a estratégia não livrou o Ministério da Fazenda de uma crise que levou à demissão de toda a diretoria da Casa da Moeda.

3)      Monopólio dos transportes pesados no Equador

Uma investigação realizada pelos jornalistas Paúl Mena Mena e Mónica Almeida, do “El Universo”, comprovou a existência de um monopólio no controle dos transportes pesados no Equador, cujo governo utiliza a modalidade para transportar gêneros agrícolas de produtores locais. Os contratos eram realizados com duas empresas, mas as companhias se fundiram e formaram a “Vialmeza”, grupo que passou a concentrar todos os contratos do Ministério da Agricultora.

Fundada em 2007, a empresa só oferecia 21 caminhões para operar em todo o país, mas mesmo assim ganhava as licitações. A investigação dos jornalistas descobriu que apenas dois veículos pertenciam realmente à empresa, e o restante da frota era subsidiada – resultando em uma porcentagem de cerca de 80% de subsídio, que ultrapassa os 30% permitidos pela Lei Orgânica de Contratação Pública.

O jornal também descobriu que o diretor da “Vialmeza”, Fernando Alvarado, empregava o filho e secretário de Comunicações do Equador, José Francisco Alvarado Echeverría, na função de consultor da empresa, o cunhado, Martín Echeverría, e o chofer do filho Camilo Jalca Villegas como fundador da companhia, que já havia lucrado $ 3,3 milhões emplacando sete contratos em seis meses.

O resultado da investigação foi a quebra do monopólio e do superfaturamento dos produtos transportados – pagava-se $ 1,57, enquanto o preço deveria $ 1,47 por saco. Não houve prisões, mas uma investigação da Justiça continua em andamento.

4) A educação superior transformada em negócio no Chile

O jornalista chileno Juan Andrés Guzmán pôs em prática uma investigação envolvendo as universidades públicas do país para apurar possíveis irregularidades que as transformavam em atividades lucrativas. Em um contexto de entrada cada vez maior de alunos nas instituições do Chile – alguns eram a primeira geração da família a começar o ensino superior -, houve, por parte do governo, a aprovação acima do esperado de universidades em 2010. A Comissão Nacional de Acreditação (CNA), que fiscalizava a qualidade das instituições, aprovava desde a mais antiga até a mais precária delas.

A autorização da CNA garantia à instituição um repasse do governo de um financiamento para os alunos de baixa renda. Por lei, elas não poderiam ter fins lucrativos, ou seja, os recursos obtidos com taxas deveriam ser reaplicados na universidade.  No entanto, a investigação evidenciou um escandaloso sistema de autorização das instituições a partir de contratos ilegais entre o presidente da CNA, empresas privadas e os reitores das universidades.

O resultado foi a destituição do ministro da Educação, a renúncia do ministro da Justiça, o encerramento das atividades de uma universidade e a prisão de quatro envolvidos – três deles ex-reitores e um ex-funcionário da CNA.

Confira a apresentação do palestrante neste link!

Texto: Lucas Torres (3º ano ECO/UFRJ)

Serviço:

Investigações sobre negócios ilegais

Com Ivonne Rodriguez (Verdad Abierta/Colômbia), Andreza Matais (Folha de S. Paulo/ Brasil), Paúl Mena Mena (El Universo/ Equador), Juan Andrés Guzmán (Chile/ Ciper).

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