O jornalismo a serviço do interesse público

Ele é conhecido como o repórter sem rosto, mas seu trabalho é fazer cair a máscara de criminosos. É impossível não associar a figura de Anas Aremeyaw Anas, prestigiado jornalista investigativo de Gana,  a de justiceiros cuja identidade é mantida em segredo nas populares histórias em quadrinho de super-heróis. Embora não seja dotado de nenhum poder sobrehumano, munido apenas de uma câmera oculta e de um disfarce longamente elaborado, o vencedor de 14 prêmios internacionais e eleito o 5º ganês mais influente em 2011, é um dos responsáveis por manter viva a democracia no país africano, segundo o presidente norte-americano Barack Obama. Site oficial de Anas Aremeyaw Anas (Foto: reprodução)
Assim como Eduardo Faustini, jornalista há 20 anos do Fantástico, da Rede Globo, acredita que todo jornalismo de qualidade é investigativo, Anas parte do pressuposto de que seu trabalho deve servir ao interesse público em primeiro lugar. Além de tornar conhecidas atrocidades que são praticadas com uma frequência assustadora na África, como o tráfico de pessoas e assassinato de crianças, ele tem como missão garantir que os criminosos sejam punidos.

Cobertura do Vaticano: rupturas na Igreja e a falta de profissionais especializados

O Vaticano tem sido destaque em jornais do mundo todo por conta de publicações constantes de reportagens sobre escândalos envolvendo pedofilia, corrupção e relações suspeitas com o poder. O choque da renúncia do papa conservador alemão Bento XVI e a surpresa diante da postura simpática e diplomática do papa Francisco, um jesuíta argentino, alimentaram as esperanças de mudanças no mundo clerical.  Mas quais as possibilidade reais de um só homem realizar rupturas profundas no Vaticano? De acordo com Clovis Rossi, jornalista que cobriu a sucessão de Bento XVI para a Folha de S.Paulo, o momento ainda é de reflexão. Segundo ele, diante de muita euforia e pouca concentricidade, ainda há muito que se saber e esclarecer sobre o “Chico Buarque de Holanda universal”, como chegou a se referir ao papa Francisco Gregorio.

Talend: uma ferramenta para o jornalismo de dados

 

Uma das maiores dificuldades dos jornalistas na hora de trabalhar com dados é a organização, já que geralmente os softwares disponíveis não são capazes de eliminar ruídos na informação, como agrupar palavras escritas de forma parecida. O Talend Open Studio pode resolver estes problemas, de acordo com Giannina Segnini, jornalista do La Nación in San José, da Costa Rica. Ela apresentou as funcionalidades do programa durante uma palestra na segunda manhã da Conferência Global de Jornalismo Investigativo 2013. O software de interface simples é gratuito e disponível on-line, criado para extrair, transferir e limpar grandes bancos de dados. O Talend aceita arquivos em qualquer formato e permite gerenciar processos simultaneamente. Giannina Segnini demonstrou como transferir arquivos do Excel para o Talend (Foto: Carolina Lomelino)

Giannina Segnini disse utilizar a ferramenta no dia-a-dia como editora investigativa.

Refinamento de dados em investigações: Microsoft Access e Google Refine

O primeiro dia da 8ª Conferência Global de Jornalismo Investigativo contou com uma programação recheada de oficinas sobre ferramentas digitais para facilitar o dia-a-dia dos jornalistas em suas investigações. “Bancos de dados não mentem para você, eles não dizem que vão te ligar depois nem ‘dizem sem comentários’, declarou o jornalista Mark Horvit, diretor-executivo da Repórteres e Editores Investigativos (IRE, na sigla em inglês). O palestrante, ao lado da treinadora da IRE, Jaimi Dowdell, deu dicas básicas para os participantes usarem o programa Microsoft Access durante a oficina “Uso de base de dados em investigações: como evitar erros e limpar dados”, realizada nesse sábado de manhã. À tarde, foi a vez do professor Nils Mulvad, da Escola Dinamarquesa de Mídia e Jornalismo, e do sociólogo Peter Verweij, fundador e diretor da empresa de consultoria e treinamento D3-Media, ensinarem a usar o software Google Refine na oficina “Como usar o Open Refine para limpar dados”. Veja abaixo como funcionam as ferramentas:

1.

Investigações sobre arquivos ocultos da ditadura

Trazer a público documentos que estão fora do alcance da população é o objetivo de Matheus Leitão e Rubens Valente, da Folha de S.Paulo, quando publicam reportagens investigativas sobre a história brasileira. Na mesa “Arquivos ocultos da ditadura”, eles explicaram o processo de investigação destas reportagens. Há cerca de dois anos, eles iniciaram um projeto que se desenvolveu em três frentes. A primeira foi maior divulgação em massa dos telegramas produzidos pelo Ministério das Relações Exteriores. Depois, os repórteres se engajaram na leitura de 250 processos para entender como funciona a impunidade no Brasil.

A voz dos sobreviventes do ‘holocausto brasileiro’

No domingo (13) à tarde, uma fila se estendia pelo pilotis da PUC-Rio. O motivo era a sessão de autógrafos do livro da jornalista mineira Daniela Arbex, “O Holocausto Brasileiro”, em meio à Conferência Global de Jornalismo Investigativo. Na obra, a autora resgatou os horrores do Hospital Colônia de Barbacena, em Minas Gerais, responsável pela morte de mais de 60 mil pessoas. Sessão de autógrafos com Daniela Arbex (Foto: Guilherme Ramalho)
Inaugurado em 1903, o maior hospício do Brasil recebia, em condições desumanas, pessoas sem sintomas de loucura ou insanidade. Repórter do jornal Tribuna de Minas, Daniela descobriu o caso em 2009, folheando um livro que continha parte de fotos do interior do hospício feitas pelo fotógrafo Luiz Alfredo, da revista “O Cruzeiro”, em 1961.

Sensibilidade é fundamental na cobertura de tragédias, defende jornalistas

“A técnica que você usa para entrevistar um político ou um empresário não funciona para entrevistar vítimas de tragédias”, explica Shapiro. (Foto: Giulia Afiune)
Carlos Alexandre, filho de militantes de esquerda, foi torturado ainda bebê durante a ditadura militar.  Com dificuldades para viver em sociedade, foi diagnosticado com fobia social e morreu este ano. “Pensei que seria interessante investigar essa história porque não são comuns casos de crianças que sofreram tortura durante a ditadura”, revela a jornalista Solange Azevedo, autora da reportagem “A ditadura não acabou”, publicada na revista IstoÉ, em janeiro de 2010. Solange participou da palestra “cobertura de desastres e traumas – como fazer investigações com sensibilidade”, realizada domingo (13), na Conferência Global de Jornalismo Investigativo, que acontece na PUC-Rio até terça (15).

Cobertura ambiental e investigação

O troféu do veterano jornalista Mark Shapiro, há duas décadas na cobertura de meio ambiente, é uma pedra do tamanho de um punho suja de petróleo. Na palestra Vanguarda da Reportagem Ambiental, na 8ª Conferência Global de Jornalismo Investigativo, Shapiro contou a história de como ela foi em suas mãos. Tudo começa numa manhã de 2002, quando o jornalista americano lia uma reportagem do New York Times sobre o petroleiro Prestige, que havia naufragado na costa da Espanha e provocara um dos maiores desastres ambientais de derramamento de óleo da história europeia. A primeira pergunta que lhe veio a cabeça foi: “por que esse navio está registrado nas Bahamas, se os proprietários são da Grécia?”. O questionamento levou Shapiro à paradisíaca praia da Galícia, no norte da Espanha, cenário do desastre e local onde encontrou a tal pedra que hoje enfeita sua mesa de trabalho. E, dali, foi em busca do responsável pelo crime ambiental.

Como utilizar ferramentas de buscas nas redes sociais

A corrida por cadeiras extras já anunciava a expectativa criada em torno da mesa “Monitorando redes sociais: para pautas quentes ou frias”, que aconteceu na manhã de sábado, segundo dia da Conferência Global de Jornalismo Investigativo, que vai até terça  na PUC-Rio. Nils Mulvad, professor e sócio na empresa dinamarquesa de consultoria em jornalismo Kaas & Mulvad, encarou com bom humor os problemas técnicos e de espaço e incentivou os ouvintes a se “apertarem” para que todos pudessem acompanhar. “O trabalho que estamos fazendo tem que mudar e rápido. As mídias sociais e móveis são a chave para sobreviver”, anunciou o especialista em novos métodos de jornalismo de dados e uso de redes sociais. A previsão que, para muitos já está consolidada, ainda cria certo desconforto entre os mais reticentes a assimilar as novas plataformas de produção de conteúdo na web.

Professor da Universidade do Texas ensina como proteger privacidade de dados

A espionagem eletrônica está no epicentro das discussões sobre a privacidade dos dados na internet. O Brasil se mostrou um dos alvos preferenciais de espiões do governo americano nas denúncias que surgiram na imprensa nos últimos meses. Estas ações atingiram até a presidente Dilma Rousseff e alguns ministros do governo brasileiro. A devassa de informações pessoais como e-mails e telefones levou Dilma a discursar na ONU pedindo a criação de um marco regulatório para a internet. Esta crise mostrou a fragilidade da privacidade na rede.