Um novo ecossistema baseado em redes de cooperação

Debate sobre as redes de investigação a nível internacional (Foto: divulgação/Isabela Dias)
No último dia da Conferência Global de Jornalismo Investigativo (15/10), iniciativa conjunta da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Global Investigative Journalism Network (GIJN) e Instituto Prensa y Sociedad (IPYS), a tônica foi a criação de redes de colaboração internacional entre jornalistas. Mediada por David Kaplan, diretor do GIJN e profissional premiado quatro vezes com o prêmio do Investigative Reporters and Editors (IRE), a mesa “Redes de investigação: melhores práticas” teve ainda a participação de Carlos Eduardo Huertas, diretor da plataforma Connectas; Brigitte Alfter, diretora do European Fund for Investigative Journalism; Khadija Sharife, do Forum for African Investigative Reporters e Carlos Dada, do El Faro. Os impactos do processo de globalização na criação de uma sociedade “internacionalizada” e cada vez mais complexa serviram de plano de fundo para o debate acerca das possibilidades e limitações da realização do jornalismo investigativo em um momento de crise da imprensa tradicional. “No futuro, trabalharemos com o jornalismo cross-border como um método, mas que deve ser aplicado em histórias realmente relevantes, pois demanda tempo, preparação e dinheiro”, acredita Brigitte Alfter. Brigitte Alfter, do European Fund for Investigative Journalism (Foto: divulgação/Isabela Dias)
Para Khadija Sharife, esse tipo de jornalismo representa não apenas um meio de construir networking, mas configura também um sistema de conhecimento que pode contribuir para a dissolução de ideias cristalizadas.

Reportagens investigativas recebem prêmios no Theatro Municipal

Não apenas de palestras, cursos e workshops foi feita a 8° Conferência Global de Jornalismo Investigativo. Também houve o momento onde os memoráveis trabalhos de investigação tiveram o devido reconhecimento. O local escolhido para abrigar, na noite desta segunda (14), a coroação das reportagens, foi o  Theatro Municipal do Rio de Janeiro. A noite iniciou em grande estilo com a homenagem prestada pela Abraji ao jornalista Marco Sá Correa. O autor da reportagem premiada com menção honrosa do Esso em 1977, sobre os detalhes da Operação Brother Sam, foi prestigiado com um vídeo que contou com o depoimento de doze colegas de profissão, dando-nos a dimensão da importância deste jornalista na história da comunicação.

Saiba como se proteger com técnicas de antivigilância

Caroline Neil, consultora de Segurança do INSI (Foto: Isabela Dias)
Um ponto fundamental do trabalho do jornalista investigativo é ser invisível, ou pelo menos, próximo disso. O planejamento para evitar rastros pode representar a diferença entre alcançar o sucesso ao contar uma história e sucumbir aos riscos de uma operação. O International News Safety Institute (INSI), órgão destinado a oferecer aconselhamento e treinamentos práticos de segurança para jornalistas que atuam em ambientes hostis, foi representado, nesta segunda-feira (14), pela consultora de segurança Caroline Neil, da Inglaterra, na Conferência Global de Jornalismo Investigativo . A especialista, com experiência na África, Oriente Médio, América do Sul, Iraque e Síria, introduziu algumas das principais técnicas básicas de combate à vigilância indesejada por jornalistas em ação, que podem inclusive ser utilizadas em casos de perseguição ou possíveis assaltos no dia a dia:
1) Pense como um espião! A melhor maneira de desarmar um potencial perseguidor é tentar pensar como ele. Faça perguntas do tipo: o que ele quer saber?

Oito ferramentas de pesquisa para investigações de negócios internacionais

A matéria investigativa está a um clique de distância. Mas, para achá-la, é necessário procurar no lugar certo. Marty Steffens da Universidade de Missouri, nos Estados Unidos, e Paul Radu, do projeto Reportagens de Crime Organizado e Corrupção, da Romênia, apresentaram, na Conferência Global de Jornalismo Investigativo, as melhores ferramentas de busca que não estão no Google. Elas são usadas como o pontapé inicial para quase todas as investigações sobre negócios internacionais. Segundo eles, o mais importante é fazer o seu próprio banco de dados.

O jornalismo a serviço do interesse público

Ele é conhecido como o repórter sem rosto, mas seu trabalho é fazer cair a máscara de criminosos. É impossível não associar a figura de Anas Aremeyaw Anas, prestigiado jornalista investigativo de Gana,  a de justiceiros cuja identidade é mantida em segredo nas populares histórias em quadrinho de super-heróis. Embora não seja dotado de nenhum poder sobrehumano, munido apenas de uma câmera oculta e de um disfarce longamente elaborado, o vencedor de 14 prêmios internacionais e eleito o 5º ganês mais influente em 2011, é um dos responsáveis por manter viva a democracia no país africano, segundo o presidente norte-americano Barack Obama. Site oficial de Anas Aremeyaw Anas (Foto: reprodução)
Assim como Eduardo Faustini, jornalista há 20 anos do Fantástico, da Rede Globo, acredita que todo jornalismo de qualidade é investigativo, Anas parte do pressuposto de que seu trabalho deve servir ao interesse público em primeiro lugar. Além de tornar conhecidas atrocidades que são praticadas com uma frequência assustadora na África, como o tráfico de pessoas e assassinato de crianças, ele tem como missão garantir que os criminosos sejam punidos.

Refinamento de dados em investigações: Microsoft Access e Google Refine

O primeiro dia da 8ª Conferência Global de Jornalismo Investigativo contou com uma programação recheada de oficinas sobre ferramentas digitais para facilitar o dia-a-dia dos jornalistas em suas investigações. “Bancos de dados não mentem para você, eles não dizem que vão te ligar depois nem ‘dizem sem comentários’, declarou o jornalista Mark Horvit, diretor-executivo da Repórteres e Editores Investigativos (IRE, na sigla em inglês). O palestrante, ao lado da treinadora da IRE, Jaimi Dowdell, deu dicas básicas para os participantes usarem o programa Microsoft Access durante a oficina “Uso de base de dados em investigações: como evitar erros e limpar dados”, realizada nesse sábado de manhã. À tarde, foi a vez do professor Nils Mulvad, da Escola Dinamarquesa de Mídia e Jornalismo, e do sociólogo Peter Verweij, fundador e diretor da empresa de consultoria e treinamento D3-Media, ensinarem a usar o software Google Refine na oficina “Como usar o Open Refine para limpar dados”. Veja abaixo como funcionam as ferramentas:

1.

Como utilizar ferramentas de buscas nas redes sociais

A corrida por cadeiras extras já anunciava a expectativa criada em torno da mesa “Monitorando redes sociais: para pautas quentes ou frias”, que aconteceu na manhã de sábado, segundo dia da Conferência Global de Jornalismo Investigativo, que vai até terça  na PUC-Rio. Nils Mulvad, professor e sócio na empresa dinamarquesa de consultoria em jornalismo Kaas & Mulvad, encarou com bom humor os problemas técnicos e de espaço e incentivou os ouvintes a se “apertarem” para que todos pudessem acompanhar. “O trabalho que estamos fazendo tem que mudar e rápido. As mídias sociais e móveis são a chave para sobreviver”, anunciou o especialista em novos métodos de jornalismo de dados e uso de redes sociais. A previsão que, para muitos já está consolidada, ainda cria certo desconforto entre os mais reticentes a assimilar as novas plataformas de produção de conteúdo na web.

Na linha de frente: os desafios e riscos da cobertura de zonas de conflito

Na semana em que o International News Safety Institute (INSI) realizou um treinamento de segurança para 20 jornalistas mulheres no Cairo, capital do Egito, a Conferência Global de Jornalismo Investigativo promove o debate sobre as dificuldades enfrentadas por aqueles que se posicionam desarmados na linha de frente do combate. Segundo dados do Comitê de Proteção aos Jornalistas, a Síria é hoje o país mais perigoso para a prática do jornalismo, com um total de 17 mortos em 2013 e mais de 200 desde o começo da guerra civil há dois anos e meio. Em comparação, ao longo dos seis anos da Guerra do Iraque (2003-2009), 139 jornalistas foram mortos, sendo a maioria iraquianos (veja o infográfico abaixo). Apesar dos números alarmantes, o jornalista da revista Tempo da Indonésia, Edi Pramono Stefanus Teguh, acredita que a reportagem em zonas de conflito deve ir além do relatório de óbitos e incidentes. “Cobrir a guerra não é apenas sobre a guerra.