Os verdadeiros interesses dos grandes eventos esportivos

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Follow the money. A famosa frase imortalizada por Garganta Profunda no filme “Todos os homens do presidente” é uma lição que os jornalistas Lúcio de Castro, Andrew Jennings e Rob Rose aprenderam após anos de investigações esportivas.

Na palestra realizada nesse sábado no auditório Del Castilho, na Conferência Global de Jornalismo Investigativo, Lúcio de Castro contou detalhes de como investigou, em 2009, o então presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Ricardo Teixeira. “Todos os caras assim têm um homem de finanças por trás. Faltava descobrir quem era esse cara”.

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Lúcio de Castro se mostrou indignado com as mudanças no Maracanã (Crédito: Katryn Dias) 

Após uma extensa pesquisa que envolveu a consulta de documentos na Justiça e em juntas comerciais, o jornalista da ESPN Brasil descobriu que o “cara” era Claudio Honigman. Com a ajuda de uma ex-mulher do empresário, Lúcio mapeou o esquema armado pelo ex-presidente da CBF e as empresas de Claudio. “Ricardo Teixeira era sócio dessas empresas e se beneficiava do dinheiro que a seleção brasileira ganhava”.

Recentemente, Lúcio também investigou as participações das empreiteiras nas obras no Maracanã. “O que mais me chamava a atenção é como um patrimônio histórico tombado pode ser modificado sem a autorização da Presidência da República”, algo que é proibido por lei.

As intervenções na estrutura do estádio foram permitidas graças ao ex-superintendente do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico Nacional) Carlos Fernando de Souza Leão Andrade. Após sair do instituto, Carlos recebeu um cargo no governo do Estado, o que teria facilitado a sua atuação na obra que custou mais de R$ 1,2 bilhão. “O que aconteceu na reforma do Maracanã foi um crime. A história foi silenciada. Isso mostra as forças das empreiteiras no Brasil”, desabafou Lúcio de Castro.

Estouro no orçamento é uma situação também conhecida por Rob Rose, jornalista sul-africano do Sunday Times. “A Copa na África do Sul custou mais de US$ 3,5 bilhões. Mas o que ficou de legado para o país? Não muito.”

Rob Rose fez duras críticas à Fifa e a forma como a entidade atua nos países que recebem a Copa do Mundo. “A Fifa controla a Copa como se fosse a mão de Deus. Como se tivéssemos que ficar muito gratos por sediar o evento.”

A charge satiriza as relações entre a Fifa e as cidades-sede.

O estádio de Green Point, na Cidade do Cabo, na África do Sul, foi citado como exemplo de elefante branco construído por exigência da federação. “É um lugar lindo, mas no meio do nada. Mas Blatter (presidente da Fifa) queria um estádio ali.”

Para Andrew Jennings, escocês que em 2006 lançou o livro “Jogo Duro” contando os esquemas de corrupção da Fifa, é preciso voltar ao processo de construção dos estádios para entender melhor a história. “A mentira vem desde o início.” O repórter lembra que, no começo, profissionais estimaram os custos das obras. “A pessoa sabe o preço de tudo: encanamento, torneiras. Mas o que aconteceu com esse custo?”, indaga ele.

É nesse ponto que entra o trabalho do jornalista investigativo para Andrew. Ele, que demorou nove anos até conseguir provas concretas sobre a corrupção na Fifa, defende que os próprios profissionais de imprensa brasileiros passem a investigar as entidades do país. Ao ser indagado durante a palestra, por exemplo, sobre as atuais relações entre a CBF e a Fifa, o escocês deu um recado. “Esse é o trabalho de vocês aqui (no Brasil).”

 

 

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