“Há muito mais corrupção além do que conseguimos revelar”, afirma Paul Radu

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Paul Radu, Xanic von Bertrab e Sheila Coronel na CGJI2013

Condomínios em Malibu, dinheiro de petrolíferas, contas na Suíça com nome falso. Foi com uma miscelânea de fraudes que a filipina Sheila Coronel começou a palestra Cobertura de corrupção e crime organizado no século 21, na Conferência Global de Jornalismo Investigativo.

Sheila é a autora e editora de diversos livros, entre eles “Coups, Cults & Cannibals: Chronicles of a Troubled Decade 1982-1992” (xícara, cultos e canibais: crônicas de uma década conturbada 1982-1992, em tradução livre), uma coleção de reportagens. “É difícil encontrar o suborno, mas é fácil descobrir como o dinheiro do suborno foi gasto”, ela diz, continuando com a pergunta: “Pra que roubar se você não pode comprar?”. Para ela, a maneira mais rápida de começar é pesquisando sobre a família do investigado. Filhos, esposa e parentes próximos costumam ostentar os frutos da fraude.

Além disso, redes sociais e contatos do suposto criminoso, como advogados, contadores e agentes de viagens, também colaboram para a investigação, já que são canais que expõem a vida íntima da pessoa. Sheila foi categórica quando um participante na plateia perguntou sobre o lugar da polícia e o lugar dos jornalistas em uma investigação: “Se a polícia fizesse o trabalho dela, não precisaríamos fazer o nosso”, cravou.

Xanic von Bertrab, segunda palestrante da mesa, tem mais de 20 anos de experiência em jornalismo investigativo e foi vencedora do prêmio Pulitzer junto com o jornalista David Barstow, em 2013, pela reportagem que expôs um esquema de suborno realizado pela rede de supermercados Walmart, no México.

A investigação, publicada no diário New York Times, mostra que a rede de supermercados conseguiu expandir novas filiais em cidades mexicanas por meio de subornos que chegaram, aproximadamente, aos 24 milhões de dólares. O caso começou a ser investigado a partir de uma “dica” dada por uma fonte de David,  indicando a denúncia de um executivo da empresa para a matriz, nos Estados Unidos.

“Foi como se um envelope tivesse caído na cabeça dele”, brinca Xanic. Ela contava sobre pagamentos ilegais feitos pela filial mexicana com o intuito de facilitar a construção de novas lojas no país. Xanic e David descobriram que uma investigação interna foi realizada na empresa para apurar o caso, mas, por um motivo não explicado, ela foi abandonada.

Era necessário provar as irregularidades da rede. Então, a dupla realizou um profundo trabalho de investigação, partindo do ponto onde a matriz parou, em conjunto com o governo federal do México. Especialista em investigações de crimes de corrupção, Xanic explicou o caminho encontrado para achar as fraudes da empresa. “Estudamos o que era normal. A corrupção deixa um rastro de enganos e nós começamos a conhecer os procedimentos normais dentro da empresa. Quando isso acontece, você consegue identificar as exceções e como elas funcionam”, explicou a jornalista.

Já Paul Radu, diretor do projeto Reportagens de Crime Organizado e Corrupção, da Romênia, criou o Investigative Dashboard (http://www.investigativedashboard.org/). O portal é colaborativo e ajuda jornalistas em pesquisas sobre crime organizado e corrupção pelo mundo.

Ele também é o dono do VIS (http://vis.occrp.org/), um site específico para jornalistas. Lá, eles podem criar um “banco de dados visual”, customizável, para mapear ligações financeiras e pessoais. Se duas pessoas adicionarem uma mesma empresa ou pessoa, ambas recebem um alerta. Segundo Paul, quase sempre há ligações entre banco de dados diferentes.

“Criminosos se movimentam muito mais rápido do que o governo. Nosso trabalho é se movimentar tão rápido quanto eles”, explica. Segundo ele, é necessário expor as ligações que um certo grupo tem não só no país em que reside, mas também internacionalmente, porque é dessa forma que o bando é surpreendido. Por isso é tão importante manter o seu próprio banco de dados: as ligações ficam muito mais claras.

“Grupos criminosos se tornaram muito mais sofisticados ao longo do tempo. Por isso, além das ferramentas, um hacker ajuda bastante no trabalho”, finalizou Paul, apontando para o hacker que trabalha em seus sites, que estava na plateia.

Texto: Amanda Rocha (4° ano PUC)
*com a colaboração de Nathalia Curvelo (4° ano Facha – Faculdades Integradas Hélio Alonso)

Serviço:

Cobertura de corrupção e crime organizado no século 21

Com Sheila Coronel (Columbia University /Philippines), Paul Radul/Organized and Corruption Reporting (Romania), Xanic von Bertrab/Freelance (Mexico) – moderador: Mark Horti

Sábado, 12 de outubro de 2013 – 11:00

 

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