A contribuição social prestada pelo jornalismo investigativo

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Uma equipe de jornalismo investigativo bem treinada tende a contribuir de forma significativa para o desenvolvimento social de seu país, segundo Lafontaine Orvild, do Haiti Grassroots Watch.

Neste sábado (12), Orvild, um dos criadores do primeiro Laboratório de Jornalismo Investigativo do Haiti, participou, ao lado de Daniela Arbex, do Tribuna de Minas, da mesa “Investigando a pobreza e o desenvolvimento”.

Com a mediação de Jane Regan, da State University of Haiti, a atividade fez parte da programação da Conferência Global de Jornalismo Investigativo, que acontece até terça (15), na PUC-Rio.

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Jane Regan e Lafontaine Orvild: as ideias do educador brasileiro Paulo Freire funcionam como inspiração para o treinamento realizado com os jornalistas. (Foto: Renata Fontanetto)

Recentemente, o grupo coordenado por Jane produziu um dossiê sobre as atividades mineradoras instaladas no norte da República do Haiti, denunciando a falta de transparência nas concessões de empresas americanas e canadenses.

“Por sorte, encontramos muita informação nos sites institucionais. Mas o trabalho, que nos consumiu dez meses, se mostrou muito complexo”, afirma Orvild.

Mesmo após inúmeras tentativas frustradas para conseguir contato com um representante do governo haitiano, além da típica dificuldade oferecida pelas empresas mineradoras durante o trabalho, a equipe emplacou quatro artigos, em francês e inglês.

“É verdade que fomos muito copiados por outros veículos de imprensa, muitos deles nem nos deram crédito, mas quanto mais gente souber o que se passa no Haiti, mais nosso esforço terá valido a pena”, disse Lafontaine.

No saldo, a descoberta da falta de transparência quanto às licenças concedidas a empresas mineradoras de grande porte, o precário envolvimento das comunidades locais – as que mais deveriam se beneficiar do “desenvolvimento” prometido pelas corporações – e a fiscalização insipiente por parte do governo.

“Uma viagem sem volta”

Foi através de uma entrevista com o psiquiatra José Laerte, em 2009, que Daniela Arbex descobriu a realidade esquecida do Hospital Colônia de Barbacena, hospício onde mais de 60 mil pessoas morreram entre os anos de 1930 e 1980 – 70% dos que foram para lá não tinham nenhum problema mental.

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Daniela Arbex: “A cobertura de direitos humanos no Brasil é arriscada e pouco incentivada, mas eu persisto até conseguir”. (Foto: Renata Fontanetto)

Hoje, o prédio que já foi palco de um verdadeiro campo de concentração é conhecido como o “Museu da Loucura”. “Depois de dois anos convencendo meu editor para me deixar fazer a matéria, consegui um trabalho de sete páginas de jornal. Mas era muito material para pouco espaço, por isso escrevi o livro ‘Holocausto brasileiro`”, ressalta Daniela.

A jornalista afirma ter sofrido muita censura para conseguir acesso a documentos como certidões de óbitos, relatórios indicando a quantidade de corpos vendidos a escolas de medicina – um total de 1853 cadáveres que deram um lucro de US$ 450 mil aos dirigentes do hospital – e a relação dos nomes dos bebês comercializados logo depois que as mães saíam do trabalho de parto.

“Eu queria provar que o que estava em cena naquela época era uma verdadeira teoria eugenista. Meu trabalho era completamente artesanal, gastamos R$ 50 reais na produção, mas muitas horas de dedicação e sola de sapato”, garante Daniela.

Para conhecer mais sobre esse massacre, assista ao vídeo a seguir:

 

Texto: Renata Fontanetto (4° ano da ECO/UFRJ)

Serviço:

Investigating Poverty and Development

Com Lafontaine Orvild/Haiti Grassroots Watch (Haiti), Daniela Arbex/Tribuna de Minas (Brasil). Moderadora: Jane Regan/State University of Haiti

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