O jornalismo de prateleira e a necessidade de buscar novas fontes

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Com mais de 40 anos de experiência como jornalista, José Paulo Kupfer, palestrante da mesa “Velhas Fontes, Velhos Vícios: Como renovar as vozes do jornalismo econômico”, do segundo dia da Conferência Global de Jornalismo Investigativo, foi categórico em sua análise sobre a atual conjuntura da cobertura jornalística de economia. O colunista do Estadão criticou o que ele chama de “jornalismo de prateleira”.

Velhas fontes 13-10 Rodrigo Gomes
José Paulo Kupfer na GIJC 2013

Para Kupfer, há entre os profissionais das redações uma acomodação na busca por novas fontes,  fenômeno que considera ainda mais recorrente no jornalismo econômico, resultando em uma cobertura hegemônica, ausente de visões diversificadas sobre a economia brasileira. “É como se as fontes estivessem nas prateleiras do supermercado. O repórter chega na redação e sabe o que vai encontrar. Está à disposição. Ele põe no ‘carrinho’ e faz a produção das matérias do dia. Dessa forma, você tem a conversa com a fonte, a projeção de números enviados pela consultoria e a análise. É muito útil que, na prateleira, o pauteiro já compre uma análise”, criticou o economista.

Para exemplificar sua tese, Kupfer reuniu, durante um mês, menções de fontes em reportagens de economia de três grandes jornais: “Folha de S. Paulo“, “O Globo” e “Estadão“. O resultado corrobora as críticas do jornalista: apenas 158 fontes foram ouvidas pelos veículos durante o período. Entre as principais estão os órgãos do governo, empresas de consultoria e instituições de pesquisa.

O panorama encontrado tem sua explicação em dois principais fatores: de um lado, as redações cada vez mais enxutas que levam à falta de tempo para buscar informações e obrigações multitarefas que dificultam uma apuração mais aprofundada; de outro, as empresas do ramo econômico mudaram sua forma de lidar com a mídia. “Eles descobriram o mercado de notícias. Estimulados por essa descoberta, essas fontes se especializaram. O problema é o jornalista aceitar passivamente esse tipo de oferta”, analisou Kupfer.

Uma das instituições que transformaram sua relação com a imprensa foi o Banco do Brasil. Após diagnosticar que sua corretora tinha pouca visibilidade na mídia, a empresa consultou especialistas e realizou treinamentos internos a fim de alterar o quadro. O resultado foi um crescimento de 345%  nas menções em veículos após um ano. “Isso não é errado. É legítimo e saudável. O problema é como os jornalistas reagem. Cabe a nós filtrar, contextualizar , oferecer visões alternativas e dar elementos para que o leitor consiga fazer suas interpretações por si mesmo”, ressaltou.

Com a envergadura de quem já trabalhou nos principais jornais do país, Kupfer apontou a solução para o “jornalismo de prateleira”: a persistência na busca por fontes alternativas. Essas fontes podem ser encontradas em bancos de teses e publicações em sites de instituições de ensino e pesquisa, por exemplo, mas não é uma tarefa fácil torná-las, de fato, úteis para os jornalistas. “Essas fontes alternativas são invisíveis. Quando você encontra, a pessoa, muitas vezes, não quer participar desse ‘jogo’. Depois que você a convence, ela diz que precisa de três dias para fazer uma análise. E quando faz, não consegue escrever em formatos adequados para o jornalista. Ela não tem treinamento, não vislumbra as vantagens de ser uma fonte”, explicou. “É complicado, mas é um trabalho fundamental, necessário, que qualifica o jornalista”.

Texto: Nathalia Curvelo (4º ano na Facha – Faculdades Integradas Hélio Alonso)

Foto: Rodrigo Gomes (4º ano, Anhembi Morumbi)

Serviço:

Velhas fontes, velhos vícios: como renovar as vozes do jornalismo econômico

Com José Paulo Kupfer (O Estado de S. Paulo/Brasil) – moderador: José Roberto de Toledo (O Estado de S. Paulo, Abraji/Brasil)

Domingo, 13 de outubro de 2013 – 09h00

 

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