A cultura do “faça você mesmo” é essencial para lidar com dados no jornalismo. Essa orientação ficou clara durante a palestra “Jornalismo de Dados no Brasil” da 8ª Conferência Global de Jornalismo Investigativo, realizada na manhã de hoje (14). No jornalismo de dados, a notícia e a história são contadas a partir de informações complexas, como banco de dados desordenados e construídos sem propósitos didáticos.
Para Filipe Speck, jornalista do jornal gaúcho Zero Hora e um dos palestrantes, “quem trabalha com banco de dados tem que seguir o autodidatismo”. José Roberto Toledo, coordenador do site Estadão Dados, também valorizou a iniciativa pessoal do jornalista em se interessar por estatística, programação, design e visualização.
No Zero Hora, assim como no Estadão, programadores e jornalistas trabalham juntos para traduzir as informações visualmente. As ferramentas mais utilizadas são gratuitas. No Infogr.am, é possível criar infográficos interativos e incorporá-los em outros sites. Também há a possibilidade de importar arquivos com dados em formatos de tabela (.xls, .xlsx, .csv). Outras opções para visualização são o Js Timeline, Google Maps e Google Maps Lite Engine, que permite criar mapas personalizados, com diversas camadas para inserção de dados.
Bem-humorado, Speck explicou como o jornal gaúcho utilizou do Maps Lite Engine durante os protestos realizados no Brasil em junho. “Todo mundo queria vir ao Zero Hora. Com o Lite Engine, a gente conseguia mostrar por onde as pessoas estavam vindo e íamos ficando preocupados”, disse.
O Estadão Dados foi criado em março de 2012 e produz infográficos diariamente, por meio de ferramentas como a Carto DB e o Plo.ly. Neles, você pode criar mapas com dados que precisam de visualização geoespacial e infográficos mais complexos. Os projetos mais elaborados costumam exigir não só jornalistas, mas programadores –profissionais fixos da equipe. Toledo apresentou um dos projetos especiais: o Basômetro, infográfico “que mostra votações no Congresso e mede o apoio dos parlamentares ao governo”. É um caso em que o potencial da informação como ferramenta pode ser visto, pela sua complexidade e função de ajudar em pesquisas.
Segundo Toledo, “a ideia não é ver a história individual, e sim ver o grau de governismo dos parlamentares”. O impacto do Basômetro foi, para o jornalista, diferente do esperado. “Teve um impacto curioso. A gente achou que os jornalistas iriam gostar, que os políticos iriam usar e que os acadêmicos iriam odiar. Mas os políticos quase não usam, e os acadêmicos adoraram. O Humberto Dantas e o Marco Teixeira vão fazer um livro.”
Para Filipe, um desafio para o futuro próximo é adaptar as sessões de infográficos dos sites para dispositivos móveis. “Não existe nenhuma dúvida de que, em breve, a principal audiência do nosso site virá de smartphones e tablets“, disse. “Temos que começar a pensar no desempenho. Precisamos de um site que demore menos para carregar”.
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7 boas práticas para trabalhar com visualização dados
Na palestra, Felipe Speck mostrou os pontos que orientam a equipe do Zero Hora Dados:
- Deixar a história mais clara. É preciso escolher adequadamente o que vai representar visualmente suas informações.
- A história e os dados primeiro, o design e o software podem esperar. O que é importante ser decidido e afinado são os dados que serão usados e o que eles contam.
- Todos pelo contexto. Um infográfico precisa de um “lugar”, não pode estar solto. Qual é a sua importância?
- Conexão como propósito. É importante criar relações e comparações entre valores. Isso pode gerar conclusões.
- Mostrar detalhes. Informações especificas e detalhadas agregam valor.
- Quando possível, mostrar relação com o usuário. Quem não gosta de ser mencionado, mesmo quando a referência é ao grupo que pertence, não é?
- Quando bacana, engajamento. Gerar engajamento do público, a partir de pautas que servem como serviço, é positivo
Texto e foto: Victor Sena (3º período, UFRRJ)
Serviço:
Palestra: “Jornalismo de Dados no Brasil”
Com José Roberto Toledo (Estado de São Paulo), Filipe Speck (Zero Hora) e Marcelo Träsel
Domingo, 14 de outubro de 2013 – 09h