Jornalistas debatem cobertura das violações aos direitos humanos na América Latina

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Colombianos afetados pelas guerrilhas, abusos sexuais praticados por um sacerdote na Argentina e massacre de civis na Guatemala. Cobrir este cenário de violação aos direitos humanos requer sensibilidade e atenção, qualidades que os jornalistas Luz Maria Sierra, da revista colombiana Semana, Ana Arana, da Fundación Mepi, e Daniel Enz, da revista Análisis, demonstraram ter de sobra ao apresentar os bastidores de suas reportagens na mesa “Investigações sobre direitos humanos”, realizada nesta segunda-feira (14) na Conferência Global de Jornalismo Investigativo.

Investigações Direitos Humanos  14-10 Rodrigo Gomes (2)
Marianella Balbi, Luz Maria Sierra e Daniel Enz

Segundo Luz Maria, há mais de 5 milhões de vítimas de guerrilhas na Colômbia. Esse dado consta em uma grande reportagem realizada pela equipe de profissionais da Semana, um trabalho que ficou conhecido como “Proyecto víctimas”. A ideia, nas palavras da jornalista, era explorar a plataforma multimídia, dando visão a um processo que durou mais de oito meses.

“Fomos atrás das vítimas de todos os tipos de grupos armados, a exemplo das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farcs)”, declarou Luz Maria. Ao todo, mais de 60 pessoas que sofreram violência desde 1980 foram entrevistadas. “A Colômbia é um país com 44 milhões de habitantes, sendo que uma em cada oito pessoas tem na família alguém que foi torturado, ameaçado ou que passou por história semelhante”, acrescentou.

Os casos eram tantos que a revista contou com o apoio do grupo televisivo Señal Colombia. Ao longo de dois meses de produção, a equipe preparou um programa para que as vítimas pudessem ir à público relatar o que tinham passado. “Tivemos o cuidado para não transformar tudo em um espetáculo, já que o tema era tão delicado e difícil”, observou Luz Maria.

O projeto virou um livro, que reuniu, aproximadamente, 500 fotografias de repórteres que registraram muitas das guerras anônimas que acontecem no território colombiano.

Ana Arana Investigações Direitos Humanos  14-10 Rodrigo Gomes (2)

Na Guatemala, o massacre da vila rural Las Dos Erres é conhecido nacionalmente. A jornalista Ana Arana contou uma das histórias dos 800 massacres ocorridos em 1982. Naquele ano, mais de 200 pessoas foram mortas pelos Kaibiles, a força especial do exército guatemalteco, que assassinou homens, mulheres e crianças para forjar uma obra feita por grupos guerrilheiros.

Em meio a isso, surge o caso de um sobrevivente, Óscar Ramírez, cuja mãe e oito irmãos foram executados. Quando tudo aconteceu, seu pai havia ido vender grãos e, ao retornar, encontrou a família morta. Mas um de seus filhos seguiu um caminho diferente: foi sequestrado. “Óscar foi adotado pelo homem que assassinou sua família. No momento em que o conhecemos, ele estava fazendo exames de DNA, em busca do pai verdadeiro”, explica Ana.

Quando uma investigação envolve casos traumáticos, a jornalista é enfática ao afirmar que o ideal é fazer a mesma pergunta ao entrevistado mais de quatro vezes. “Fizemos uma apuração minuciosa. Entrevistamos o pai biológico de Óscar várias vezes durante cinco meses. Quando ele se lembrou do nome do filho quando criança, Alfredo, foi uma grande emoção”, detalhou.

Daniel Enz também conhece as demandas de um longo processo investigativo. Em seu veículo, Análisis, trabalha com mais 11 profissionais, sendo que quatro estão envolvidos com reportagens de fôlego. “Contamos com uma renda mensal de dez mil dólares para produzir nossos materiais”, disse.

Entre a década de 60 e 70, mais de 50 menores de até 14 anos sofreram abusos sexuais, no Seminário Paraná, pelo sacerdote Justo José Llaráz. “Quando a matéria foi publicada, muitas outras vítimas começaram a surgir, todas contavam a mesma história: haviam sido masturbadas, assediadas, iniciadas sexualmente e ainda sofriam ameaças caso contassem para as famílias”, revela Daniel.

No mesmo dia que a reportagem saiu na revista Análisis, o arcebispado de Paraná liberou um comunicado no qual pedia perdão às vítimas. “Ainda hoje, as pessoas que sofreram abusos esperam por justiça. Llaráz não foi condenado por seus crimes, apenas perdeu o direito de exercer o sacerdotismo”, lamentou Daniel.

Texto: Renata Fontanetto (4° ano, ECO/UFRJ)

Fotos: Rodrigo Gomes (4º ano, Anhembi Morumbi)

Serviço

Investigaciones sobre derechos humanos

Com Luz Maria Sierra/Semana (Colombia), Ana Arana/Fundación Mepi (México) e Daniel Enz/Revista Análisis (Argentina) – com mediação de Marianella Balbi/IPYS (Venezuela)

Segunda, 14 de outubro de 2013 – 15:30

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