Miriam Leitão diz ter sentido medo ao fazer reportagem sobre índios Awá

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Miriam Leitão 13-10 Rodrigo Gomes (4)
A jornalista Miriam Leitão conta suas histórias pela Floresta Amazônica

Jornalista há 40 anos, Miriam Leitão admite: “com tantos anos de carreira, as pessoas pensam se é possível uma jornalista experiente poder sentir medo ao fazer uma reportagem? Sim, e que bom, eu ainda tenho medo!”. Assim, a jornalista descreveu o que sentiu ao viajar para a aldeia Juruti, a convite do fotógrafo Sebastião Salgado e contar a história dos Awá em Paraíso sitiado – a luta dos índios invisíveis, publicada pelo O Globo em agosto desde ano. Com Gazeta Mercantil, Jornal do Brasil, Veja e O Estado de S. Paulo no currículo, Míriam é atualmente colunista na CBN, no jornal O Globo, comentarista no matutino Bom Dia Brasil (TV Globo) e apresentadora de um programa próprio na Globo News.

Miriam contou ao público, que assistia com atenção a seu depoimento, como a reportagem com os Awá a tirou da zona de conforto ao mudar completamente seus personagens. Ela não estava lidando com economistas e nem cobrindo uma reunião do Copom, e sim compartilhando o cotidiano de um povo indígena que teve pouco contato com o “homem branco” e luta pela preservação da Reserva Biológica Gurupi (parte da Floresta Amazônica no Maranhão). “O medo me acompanhou durante toda esta reportagem, mas não era o temor de uma cobra, de andar pela floresta ou de uma aranha caranguejeira, e sim de não merecer esta história, de não conseguir passá-la como deveria ser. Tudo ali era novo para mim. Eu tinha que merecer meu companheiro de viagem (Salgado é considerado um dos maiores fotógrafos do mundo) e fazer com que as pessoas conseguissem entrar no mundo dele”, relembrou.

Leia mais: em entrevista, Miriam Leitão diz que “quer morrer na reportagem”

A mineira da cidade de Caratinga contou que se emocionou muito nesta cobertura e se surpreendeu. “A maior parte dos Awá não fala português, e isso foi um grande impacto para mim, eu não estava preparada para encontrar em outro brasileiro a barreira da língua. Certa vez, um deles fez para nós um discurso, e sua fala foi tão forte que mesmo sem entender o que dizia eu consegui chorar. Compreendi apenas as palavras ‘madeireiro’ e ‘coragem’, pronunciadas em português”.  Durante sua apuração, Miriam teve ajuda do antropólogo Irá Garcia, que a auxiliou com o idioma falado pelos Awá, o guajá.

Todos os exemplares do jornal de domingo que traziam a reportagem de Miriam foram vendidos, uma recompensa a mais para a jornalista, que retornou da aldeia Juruti com outra percepção sobre o país. “Voltei de lá mais humilde e mais consciente do que eu não sei sobre o Brasil e preciso estudar. A gente ainda não sabe o espaço que os índios devem ter em nossa sociedade. Na verdade, eles estão prestando um serviço para nós ao lutarem para proteger a floresta. O Brasil só terá sucesso quando conseguir preservar sua diversidade biológica e humana, respeitando as diferenças e se despindo de preconceitos. Aí incluo também a questão racial”, refletiu.

 Ao final do debate, uma longa fila se formou a frente da jornalista para fotos e autógrafos do livro-reportagem Saga brasileira: a longa luta de um povo por sua moeda, lançado em 2012 e vencedor do Prêmio Jabuti. O primeiro livro de Miriam foi o Convém Sonhar, de 2010. Como mais uma prova de que é uma jornalista que gosta de desafios e incursões em novos caminhos, Miriam enveredou este ano pelo universo infantil com um terceiro livro: A perigosa vida dos passarinhos pequenos.

Texto: Isabel Muniz (4º ano – Universidade Federal Flumimense) e Victor Sena (3º ano – Rural)

Foto: Rodrigo Gomes (4º ano, Anhembi Morumbi)

Serviço:

Paraíso sitiado: a luta dos índios invisíveis

Com Miriam Leitão (O Globe, CBN, Globe News) – moderador: Eliane Brum (independente)

Domingo, 13 de outubro de 2013 – 09:00

 

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