Investigar crimes financeiros é um dos trabalhos mais complexos do jornalismo. Os palestrantes da mesa “Investigando fraudes financeiras” contaram os bastidores de investigações jornalísticas e destacaram as dificuldades de apurar irregularidades na área econômica, especialmente quando elas envolvem grandes empresas, nesta segunda-feira (14), durante a 8ª Conferência Global de Jornalismo Investigativo.
O jornalista David Cay Johnston, presidente do Investigative Reporters and Editors (IRE), deu dicas sobre como investigar crimes financeiros. Ele disse que é fundamental que o jornalista tenha noções de contabilidade. Professor da Syracuse University College of Law, nos Estados Unidos, Johnston disse que os balanços financeiros divulgados pelas empresas são fontes de informação valiosas. “Um aumento excepcional no lucro de uma companhia pode ser um indício de irregularidades”, afirmou. Ele recomenda que os repórteres façam o armazenamento de todos os documentos econômicos que estiverem apurando.
Johnston ainda mostrou como obtém informações importantes sobre movimentações financeiras nos EUA pelo site da Securities and Exchange Commission (SEC), agência do governo federal dos EUA com função equivalente à Comissão de Valores Mobiliários (CVM): “Ao fazer uma pesquisa no site da SEC, podemos saber se o nome de uma empresa investigada foi alterado, por exemplo”.
O jornalista Roman Shleynov, do diário econômico Vedomosti, projeto russo do The Wall Street Journal e do Financial Times, disse que há inúmeros casos de investigações no país sobre corrupção envolvendo empresários e políticos. “Em nenhum país há mais trabalho para um jornalista investigativo do que na Rússia”, brincou. Segundo ele, os crimes financeiros geralmente ocorrem, com a conivência de parlamentares, em obras públicas. As empresas compram materiais de construção muito mais baratos do que os determinados por editais, superfaturando milhões de dólares.
Em uma das suas investigações, Shleynov revelou as pressões da elite econômica russa contra políticas de combate a paraísos fiscais. A reportagem, publicada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês), mostrou que dirigentes de grandes estatais russas eram donos de empresas registradas nas Ilhas Virgens Britânicas. Este trabalho jornalístico o levou a ser acusado pelo governo russo de manter ligações com a CIA, a agência de inteligência dos EUA.
Para o repórter, o desafio das investigações complexas é tentar chegar o mais perto possível das informações ocultas. “Em muitas investigações, depois de cruzar dados de endereço, uma secretária desatenta de uma empresa investigada acaba deixando escapar que na sede da companhia também funciona uma organização de fachada”, observou.
O jornalista Daniel Santoro, editor de política do jornal Clarin, contou como foram feitas as investigações que expuseram as ligações entre o ex-presidente argentino Néstor Kirchner e o empreiteiro Lázaro Báez. Reportagens revelaram que eles eram sócios em empreendimentos de construção civil em Santa Cruz, reduto político dos Kirchner. Nos últimos anos, empreiteiras do empresário receberam mais de um bilhão de dólares do governo federal e da província de Santa Cruz por obras realizadas no sul do país. Santoro disse que seguir a movimentação de dinheiro sujo norteou as investigações: “Depois de identificarmos quem eram os diretores de empresas envolvidas nas fraudes, descobrimos que os recursos estavam sendo desviados”, lembrou.
Texto:
Guilherme Simão (PUC-Rio, 4º ano)
Serviço:
Investigando fraudes financeiras
Com David Cay Johnston (Investigative Reporters and Editors), Daniel Santoro (Clarin) e Roman Shleynov (Vedomosti) — mediação de Jens Egil Heftøy (SKUP).
Segunda-feira, 14 de outubro de 2013 – 11:00