Lei de Acesso à Informação garante um passo à frente para repórteres

Em vigor no Brasil desde 2012, a Lei de Acesso à Informação ainda tem muito avançar. Segundo Fernando Rodrigues, da Folha de S. Paulo, um exemplo que o Brasil deve ter em mente são os Estados Unidos. “No site da Casa Branca é possível ver os salários de todos que trabalham para o governo, sem maiores obstáculos. Quando você clica para fazer o download, aparecerem diversas opções de arquivo, e cada um escolhe o melhor para o que necessita fazer. Isso sim é a transparência elevada à décima potência”, comenta. Além de Rodrigues, Ivana Moreira (Veja BH) e Marina Atoji (Abraji) participaram da mesa “Mapa de Acesso s Informações Públicas 2013”, na Conferência Global de Jornalismo Investigativo.

Transparência dos gastos públicos é campo fértil para jornalistas

Como descobrir quanto o governo federal gasta para alimentar as emas que vivem no Palácio da Alvorada? No início da tarde desta segunda (14), penúltimo dia da Conferência Global de Jornalismo Investigativo, que acontece na PUC-Rio até terça (15), o economista Gil Castello Branco ensinou o caminho a ser percorrido para chegar a este e outros dados sobre gastos públicos. O Diretor do Contas Abertas citou exemplos de grandes reportagens que foram capa de jornais e revistas de grande circulação e apresentou um passo-a-passo de como chegar às informações que deram origem a elas. O uso do dinheiro público para pagamento de diárias em hotéis pela ex-ministra da Cultura Ana de Hollanda, os altos repasses do Governo Federal à empresa Delta Participações, os gastos com a Copa do Mundo de 2014, quantos são os cargos de confiança nos mais altos setores do governo… Estes são só alguns dos casos que Castello Branco utilizou para demonstrar aonde estão e como é fácil acessar dados do poder público brasileiro.

Um olhar sensível para histórias extraordinárias

“Sem o movimento essencial do repórter não é possível fazer nenhuma reportagem”. Essa foi a expressão destacada por Eliane Brum ao longo de toda a sua palestra. Movimento que, para ela, significa a sensibilidade do olhar, de ver o outro e de se colocar no mundo e na vida que o rodeia. A palestra da jornalista, escritora e documentarista dividiu-se em mais duas partes além do movimento essencial: os principais estereótipos ligados à cobertura sobre a Amazônia e a construção da memória oral em contraposição à escrita. “A nossa força como repórter é justamente a consciência pela fragilidade da nossa posição”, disse, destacando em sua fala, mansa e convicta, que é possível notar a paixão e o zelo pela reportagem, bem como sua sensibilidade ao captar as nuances dessa profissão tão singular e das histórias que testemunha. Durante cerca de duas horas, Brum indicou caminhos e possibilidades para todos aqueles que se propõem a reportar os fatos de uma outra forma. Como costuma fazer em suas palestras, Brum leu – ou melhor, recitou – para um auditório lotado ferramentas cruciais à prática do repórter, e ressaltou a responsabilidade diante das histórias que nos propomos a contar. O olhar humilde, mas longe de ser imparcial, seria uma das ferramentas para evitar o que ela chama de anti-jornalismo.

Ganhadores do Pulitzer, Esso e SIP contam os bastidores de suas investigações

Alejandra Xanic von Bertrab, prêmio Pulitzer 2013. (Foto: Rodrigo Gomes)
Ganhadores dos prêmios Pulitzer, Esso e Excelência Jornalística da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) contaram os bastidores de suas investigações na mesa “Investigaciones Premiadas”, realizada na PUC-Rio, neste domingo (13), segundo dia da Conferência Global de Jornalismo Investigativo. Em comum, todas as reportagens trabalharam com uma grande quantidade de dados técnicos e oficiais das instituições investigadas, o que significou uma tarefa extra de tradução e cruzamento das informações, além do uso da Lei de Acesso à Informação (LAI) para obter documentos sigilosos e estratégicos. O trabalho independente da jornalista mexicana Alejandra Xanic von Bertrab permitiu que ela desenvolvesse uma expertise no uso da LAI daquele país. Durante 18 meses, ela e o repórter do jornal The New York Times, David Barstow, ganhadores do Pulitzer deste ano na categoria “jornalismo investigativo”, recorreram mais de 800 vezes a repartições públicas federais, estaduais e municipais.

Projeto Excelências: conheça os parlamentares brasileiros

O que os congressistas brasileiros tentam esconder? Para responder essa pergunta, a ONG Transparência Brasil criou o projeto Excelências, banco de dados que disponibiliza na internet informações sobre parlamentares da Câmara dos Deputados e do Senado para jornalistas e para a população em geral. Em minicurso apresentado na Conferência Global de Jornalismo Investigativo, o jornalista Claudio Abramo, diretor executivo da organização, explicou o projeto e falou sobre a disponibilização de dados da vida pública brasileira. “A política brasileira é um tema rico em informação e pouco explorado”, afirmou. Segundo Abramo,  o governo brasileiro oferece muito mais informações do que a imprensa e o próprio cidadão se dão conta.

A corrupção em compras feitas pelo Estado é pública, dizem palestrantes

Palestra “Investigações sobre compras estatais”, realizada segunda (14). (Foto: Rodrigo Gomes)
A corrupção em compras feitas pelo Estado é pública, afirmou Nancy Vacaflor, do jornal Página Siete (Bolívia). O jornalista participou, nesta segunda (14), da mesa “Investigações sobre compras estatais”, que compôs a programação da Conferência Global de Jornalismo Investigativo, que ocorre desde o último sábado (12) na PUC-Rio, e segue até terça (15). “Com empenho e paciência é possível encontrar indícios e provas de desvios de conduta nas licitações, nos contratos e nos aditivos”, explicou Vacaflor. Nancy apresentou uma investigação sobre a compra de 16 barcas e dois rebocadores de uma empresa chinesa pelo governo boliviano.

Eduardo Faustini: o homem sem rosto da TV Globo

Parceiros em muitas matérias, os jornalistas da TV Globo Eduardo Faustini, André Azevedo e Fernando Molica lotaram neste domingo (13) a mesa “Reportagem com Câmera Escondida”, da Conferência Global de Jornalismo Investigativo realizada na PUC-Rio, para compartilhar experiências e contar os bastidores da notícia. Por trás das câmeras

Devido ao trabalho, Faustini recebeu a alcunha de “o homem sem rosto da Rede Globo”. Repórter e produtor do programa Fantástico há mais de 20 anos, ele entra na casa de milhões de brasileiros sem se apresentar, mas causando impacto. Durante as palestras, ele não pode ser fotografado. O máximo que conhecemos é o seu nome nos créditos das reportagens. Nenhuma imagem pode ser divulgada para preservar sua segurança mas, principalmente, para manter o anonimato que o permite entrar em qualquer lugar para continuar realizando suas reportagens que quase sempre se tornam emblemáticas e têm grande repercussão. Segundo ele, o conteúdo incriminatório de seu trabalho se resume ao que ele chama de “função de jornalista”.

O jornalismo a serviço do interesse público

Ele é conhecido como o repórter sem rosto, mas seu trabalho é fazer cair a máscara de criminosos. É impossível não associar a figura de Anas Aremeyaw Anas, prestigiado jornalista investigativo de Gana,  a de justiceiros cuja identidade é mantida em segredo nas populares histórias em quadrinho de super-heróis. Embora não seja dotado de nenhum poder sobrehumano, munido apenas de uma câmera oculta e de um disfarce longamente elaborado, o vencedor de 14 prêmios internacionais e eleito o 5º ganês mais influente em 2011, é um dos responsáveis por manter viva a democracia no país africano, segundo o presidente norte-americano Barack Obama. Site oficial de Anas Aremeyaw Anas (Foto: reprodução)
Assim como Eduardo Faustini, jornalista há 20 anos do Fantástico, da Rede Globo, acredita que todo jornalismo de qualidade é investigativo, Anas parte do pressuposto de que seu trabalho deve servir ao interesse público em primeiro lugar. Além de tornar conhecidas atrocidades que são praticadas com uma frequência assustadora na África, como o tráfico de pessoas e assassinato de crianças, ele tem como missão garantir que os criminosos sejam punidos.

Cobertura do Vaticano: rupturas na Igreja e a falta de profissionais especializados

O Vaticano tem sido destaque em jornais do mundo todo por conta de publicações constantes de reportagens sobre escândalos envolvendo pedofilia, corrupção e relações suspeitas com o poder. O choque da renúncia do papa conservador alemão Bento XVI e a surpresa diante da postura simpática e diplomática do papa Francisco, um jesuíta argentino, alimentaram as esperanças de mudanças no mundo clerical.  Mas quais as possibilidade reais de um só homem realizar rupturas profundas no Vaticano? De acordo com Clovis Rossi, jornalista que cobriu a sucessão de Bento XVI para a Folha de S.Paulo, o momento ainda é de reflexão. Segundo ele, diante de muita euforia e pouca concentricidade, ainda há muito que se saber e esclarecer sobre o “Chico Buarque de Holanda universal”, como chegou a se referir ao papa Francisco Gregorio.

Talend: uma ferramenta para o jornalismo de dados

 

Uma das maiores dificuldades dos jornalistas na hora de trabalhar com dados é a organização, já que geralmente os softwares disponíveis não são capazes de eliminar ruídos na informação, como agrupar palavras escritas de forma parecida. O Talend Open Studio pode resolver estes problemas, de acordo com Giannina Segnini, jornalista do La Nación in San José, da Costa Rica. Ela apresentou as funcionalidades do programa durante uma palestra na segunda manhã da Conferência Global de Jornalismo Investigativo 2013. O software de interface simples é gratuito e disponível on-line, criado para extrair, transferir e limpar grandes bancos de dados. O Talend aceita arquivos em qualquer formato e permite gerenciar processos simultaneamente. Giannina Segnini demonstrou como transferir arquivos do Excel para o Talend (Foto: Carolina Lomelino)

Giannina Segnini disse utilizar a ferramenta no dia-a-dia como editora investigativa.