Rostos invisíveis: De frente com as faces ocultas do jornalismo

Três grandes nomes estiveram presentes na palestra sobre Reportagem com Câmera Escondida no segundo dia da Conferência Global de Jornalismo Investigativo 2013, um deles foi Eduardo Faustini, jornalista da TV Globo. André Luiz Azevedo, também da TV Globo e Fernando Molica, ex-diretor da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e editor no jornal O Dia, também participaram da mesa. Conhecer o rosto de Eduardo Faustini foi privilégio dos cerca de 150 participantes presentes, já que não foi permitido filmar ou fotografar o especialista em câmera escondida.“Eu consigo fazer meu trabalho por causa desta ocultação”, explicou o repórter. Enquanto Eduardo Faustini mantem sua identidade resguardada, André Luiz Azevedo é muitas vezes o rosto de suas reportagens. “O Faustini me botou na cara do gol e eu tive o privilégio de não chutar pra fora” elogiou o colega de trabalho. Durante a palestra, foram citados exemplos de matérias feitas com câmera escondida. Foi exibida uma reportagem sobre denúncias de abuso sexual de um médico ortopedista que atendia pacientes em um Posto de Atendimento Médico (PAM), da Zona Norte do Rio de Janeiro. Na opinião de Faustini, a repórter encarregada de flagrar as atitudes indevidas do médico conseguiu o melhor enquadramento da câmera escondida até hoje.

A contribuição social prestada pelo jornalismo investigativo

Uma equipe de jornalismo investigativo bem treinada tende a contribuir de forma significativa para o desenvolvimento social de seu país, segundo Lafontaine Orvild, do Haiti Grassroots Watch. Neste sábado (12), Orvild, um dos criadores do primeiro Laboratório de Jornalismo Investigativo do Haiti, participou, ao lado de Daniela Arbex, do Tribuna de Minas, da mesa “Investigando a pobreza e o desenvolvimento”. Com a mediação de Jane Regan, da State University of Haiti, a atividade fez parte da programação da Conferência Global de Jornalismo Investigativo, que acontece até terça (15), na PUC-Rio. Jane Regan e Lafontaine Orvild: as ideias do educador brasileiro Paulo Freire funcionam como inspiração para o treinamento realizado com os jornalistas. (Foto: Renata Fontanetto)
Recentemente, o grupo coordenado por Jane produziu um dossiê sobre as atividades mineradoras instaladas no norte da República do Haiti, denunciando a falta de transparência nas concessões de empresas americanas e canadenses.

Como utilizar ferramentas de buscas nas redes sociais

A corrida por cadeiras extras já anunciava a expectativa criada em torno da mesa “Monitorando redes sociais: para pautas quentes ou frias”, que aconteceu na manhã de sábado, segundo dia da Conferência Global de Jornalismo Investigativo, que vai até terça  na PUC-Rio. Nils Mulvad, professor e sócio na empresa dinamarquesa de consultoria em jornalismo Kaas & Mulvad, encarou com bom humor os problemas técnicos e de espaço e incentivou os ouvintes a se “apertarem” para que todos pudessem acompanhar. “O trabalho que estamos fazendo tem que mudar e rápido. As mídias sociais e móveis são a chave para sobreviver”, anunciou o especialista em novos métodos de jornalismo de dados e uso de redes sociais. A previsão que, para muitos já está consolidada, ainda cria certo desconforto entre os mais reticentes a assimilar as novas plataformas de produção de conteúdo na web.

“É preciso errar muito para encontrar o modelo de negócio sustentável”

Foto: Victor Sena
O modelo de negócio mais adequado para uma organização de jornalismo investigativo depende de suas características e objetivos. Para Reg Chua, editor de dados e inovação na Thomson Reuters, Sheila Coronel, do  Centro Filipino de Jornalismo Investigativo (PCIJ) e Charles Lewis, diretor do Investigative Reporting Workshop, da American University School of Communication, neste ramo ainda não existe uma fórmula ideal para financiar projetos sem fins lucrativos. Os jornalistas estiveram juntos, neste sábado (12), na mesa “O Jornalismo Investigativo como Negócio: Que Modelos Funcionam?”, mediada por Kevin Davis, diretor-executivo da Investigative News Network (INN), que integra a programação da Conferência Global de Jornalismo Investigativo, realizada na PUCRJ até terça (15). Os três concordam que as novas organizações precisam experimentar diferentes meios de financiamento até encontrar as formas mais apropriadas ao seu projeto. Para captar recursos, ressaltam, é fundamental definir o tipo de conteúdo jornalístico que se pretende produzir e deixar claro para o público quem financia as investigações.

Na linha de frente: os desafios e riscos da cobertura de zonas de conflito

Na semana em que o International News Safety Institute (INSI) realizou um treinamento de segurança para 20 jornalistas mulheres no Cairo, capital do Egito, a Conferência Global de Jornalismo Investigativo promove o debate sobre as dificuldades enfrentadas por aqueles que se posicionam desarmados na linha de frente do combate. Segundo dados do Comitê de Proteção aos Jornalistas, a Síria é hoje o país mais perigoso para a prática do jornalismo, com um total de 17 mortos em 2013 e mais de 200 desde o começo da guerra civil há dois anos e meio. Em comparação, ao longo dos seis anos da Guerra do Iraque (2003-2009), 139 jornalistas foram mortos, sendo a maioria iraquianos (veja o infográfico abaixo). Apesar dos números alarmantes, o jornalista da revista Tempo da Indonésia, Edi Pramono Stefanus Teguh, acredita que a reportagem em zonas de conflito deve ir além do relatório de óbitos e incidentes. “Cobrir a guerra não é apenas sobre a guerra.