Ganhadores do Pulitzer, Esso e SIP contam os bastidores de suas investigações

Alejandra Xanic von Bertrab, prêmio Pulitzer 2013. (Foto: Rodrigo Gomes)
Ganhadores dos prêmios Pulitzer, Esso e Excelência Jornalística da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) contaram os bastidores de suas investigações na mesa “Investigaciones Premiadas”, realizada na PUC-Rio, neste domingo (13), segundo dia da Conferência Global de Jornalismo Investigativo. Em comum, todas as reportagens trabalharam com uma grande quantidade de dados técnicos e oficiais das instituições investigadas, o que significou uma tarefa extra de tradução e cruzamento das informações, além do uso da Lei de Acesso à Informação (LAI) para obter documentos sigilosos e estratégicos. O trabalho independente da jornalista mexicana Alejandra Xanic von Bertrab permitiu que ela desenvolvesse uma expertise no uso da LAI daquele país. Durante 18 meses, ela e o repórter do jornal The New York Times, David Barstow, ganhadores do Pulitzer deste ano na categoria “jornalismo investigativo”, recorreram mais de 800 vezes a repartições públicas federais, estaduais e municipais.

Projeto Excelências: conheça os parlamentares brasileiros

O que os congressistas brasileiros tentam esconder? Para responder essa pergunta, a ONG Transparência Brasil criou o projeto Excelências, banco de dados que disponibiliza na internet informações sobre parlamentares da Câmara dos Deputados e do Senado para jornalistas e para a população em geral. Em minicurso apresentado na Conferência Global de Jornalismo Investigativo, o jornalista Claudio Abramo, diretor executivo da organização, explicou o projeto e falou sobre a disponibilização de dados da vida pública brasileira. “A política brasileira é um tema rico em informação e pouco explorado”, afirmou. Segundo Abramo,  o governo brasileiro oferece muito mais informações do que a imprensa e o próprio cidadão se dão conta.

“Há muito mais corrupção além do que conseguimos revelar”, afirma Paul Radu

Paul Radu, Xanic von Bertrab e Sheila Coronel na CGJI2013
Condomínios em Malibu, dinheiro de petrolíferas, contas na Suíça com nome falso. Foi com uma miscelânea de fraudes que a filipina Sheila Coronel começou a palestra Cobertura de corrupção e crime organizado no século 21, na Conferência Global de Jornalismo Investigativo. Sheila é a autora e editora de diversos livros, entre eles “Coups, Cults & Cannibals: Chronicles of a Troubled Decade 1982-1992” (xícara, cultos e canibais: crônicas de uma década conturbada 1982-1992, em tradução livre), uma coleção de reportagens. “É difícil encontrar o suborno, mas é fácil descobrir como o dinheiro do suborno foi gasto”, ela diz, continuando com a pergunta: “Pra que roubar se você não pode comprar?”. Para ela, a maneira mais rápida de começar é pesquisando sobre a família do investigado.

Não vá se perder por aí: visualização de dados usando Google Fusion Table

Lidar com a geração de um grande volume de informação, e torná-la mais acessível, através da visualização de dados, é um desafio para a maioria dos jornalistas. No meio de tantos dados disponíveis é fácil se perder e não saber qual caminho seguir. Durante a Conferência Global de Jornalismo Investigativo, Tommy Kaas, jornalista e co-fundador da Kaas & Mulvad, apresentou o Google Fusion Table. A ferramenta permite visualizar dados através de mapas. Tudo isso usando a geolocalização como guia.

A guerra contra o crime organizado na agenda da imprensa

Narco-máfias em debate na Conferência Global de Jornalismo Investigativo (Foto: divulgação/ Isabela Dias)
Os confrontos armados na Síria, Líbia e Egito têm ocupado as primeiras páginas dos principais jornais do mundo, além dos escassos minutos dos noticiários televisivos em escala global. E não é para menos, afinal desde o início da guerra civil em território sírio, em março de 2011, mais de 100 mil pessoas foram mortas e atingiu-se um total de 2 milhões de refugiados, de acordo com dados divulgados pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH). Outras guerras, no entanto, produzem anualmente índices de dimensões similares, sem que recebam igual visibilidade na imprensa internacional. É o caso do combate ao crime organizado no México que, em 2012, tirou o dobro de vidas de conflitos no Iraque e no Irã. Em conferência realizada nesta segunda (14), terceiro dia da Conferência Global de Jornalismo Investigativo, na PUC-Rio, o jornalista Ricardo Ravelo, da revista Variopinto, apresentou um panorama da questão que virou objeto dos livros El narco en México: lo que hay que saber (O narcotráfico no México: o que é preciso saber – 2011) e Narcomex (2012).

A corrupção em compras feitas pelo Estado é pública, dizem palestrantes

Palestra “Investigações sobre compras estatais”, realizada segunda (14). (Foto: Rodrigo Gomes)
A corrupção em compras feitas pelo Estado é pública, afirmou Nancy Vacaflor, do jornal Página Siete (Bolívia). O jornalista participou, nesta segunda (14), da mesa “Investigações sobre compras estatais”, que compôs a programação da Conferência Global de Jornalismo Investigativo, que ocorre desde o último sábado (12) na PUC-Rio, e segue até terça (15). “Com empenho e paciência é possível encontrar indícios e provas de desvios de conduta nas licitações, nos contratos e nos aditivos”, explicou Vacaflor. Nancy apresentou uma investigação sobre a compra de 16 barcas e dois rebocadores de uma empresa chinesa pelo governo boliviano.

Como proteger sua identidade e suas fontes online

Ao fazer investigações sobre temas delicados, é essencial que o jornalista tome providências para proteger sua identidade e seus dados. Algumas atitudes cotidianas, que tomamos sem pensar, são potencialmente perigosas, como usar provedores de e-mail gratuitos ou até mesmo o celular. Karen Reilly, diretora de desenvolvimento do Tor Project, alerta que o celular, inclusive, pode ser facilmente rastreável. Um dos maiores erros é acreditar que, ao desligar o aparelho ou o GPS, você está protegido. Na verdade, quando o aparelho está desligado, só interrompe a conexão com satélites, mas continua ligado às torres de telefonia e, assim, não esconde sua localização.

Oito dicas para achar boas histórias

A troca de dicas, histórias e contatos marcou a oficina de Colaboração sobre esportes, que fez jus ao nome, criando uma nova rede entre os presentes. Ali se encontraram estudantes e jornalistas de diversos países, como Bélgica, Tunísia e Finlândia. Após uma breve apresentação de cada um dos participantes, como o ilustre Andrew Jennings e o repórter Declan Hill, da CBC, os palestrantes Andrew Lehren e Rob Rose distribuíram pendrives com dados sobre os medalhistas olímpicos. Ali também estavam “algumas das melhores reportagens esportivas no mundo”, na opinião de Lehren, para inspirar os presentes. Lehren distribuiu pen-drives para os presentes.

Eduardo Faustini: o homem sem rosto da TV Globo

Parceiros em muitas matérias, os jornalistas da TV Globo Eduardo Faustini, André Azevedo e Fernando Molica lotaram neste domingo (13) a mesa “Reportagem com Câmera Escondida”, da Conferência Global de Jornalismo Investigativo realizada na PUC-Rio, para compartilhar experiências e contar os bastidores da notícia. Por trás das câmeras

Devido ao trabalho, Faustini recebeu a alcunha de “o homem sem rosto da Rede Globo”. Repórter e produtor do programa Fantástico há mais de 20 anos, ele entra na casa de milhões de brasileiros sem se apresentar, mas causando impacto. Durante as palestras, ele não pode ser fotografado. O máximo que conhecemos é o seu nome nos créditos das reportagens. Nenhuma imagem pode ser divulgada para preservar sua segurança mas, principalmente, para manter o anonimato que o permite entrar em qualquer lugar para continuar realizando suas reportagens que quase sempre se tornam emblemáticas e têm grande repercussão. Segundo ele, o conteúdo incriminatório de seu trabalho se resume ao que ele chama de “função de jornalista”.

O jornalismo a serviço do interesse público

Ele é conhecido como o repórter sem rosto, mas seu trabalho é fazer cair a máscara de criminosos. É impossível não associar a figura de Anas Aremeyaw Anas, prestigiado jornalista investigativo de Gana,  a de justiceiros cuja identidade é mantida em segredo nas populares histórias em quadrinho de super-heróis. Embora não seja dotado de nenhum poder sobrehumano, munido apenas de uma câmera oculta e de um disfarce longamente elaborado, o vencedor de 14 prêmios internacionais e eleito o 5º ganês mais influente em 2011, é um dos responsáveis por manter viva a democracia no país africano, segundo o presidente norte-americano Barack Obama. Site oficial de Anas Aremeyaw Anas (Foto: reprodução)
Assim como Eduardo Faustini, jornalista há 20 anos do Fantástico, da Rede Globo, acredita que todo jornalismo de qualidade é investigativo, Anas parte do pressuposto de que seu trabalho deve servir ao interesse público em primeiro lugar. Além de tornar conhecidas atrocidades que são praticadas com uma frequência assustadora na África, como o tráfico de pessoas e assassinato de crianças, ele tem como missão garantir que os criminosos sejam punidos.